terça-feira, setembro 25, 2007

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS -SUDÂO (8) Fim dos safaris em Sudâo.

Um dos safaris que fiz na Floresta Equatorial, foi com os meus grandes amigos, Rosa e Federico Segura.
Este casal tinha caçado muitas vezes comigo em Moçambique, em Angola e agora no Sudão.
Chegaram a Juba via Roma, Khartoum, Juba. Eu estava esperando-os no aeroporto, para ajuda-los com as malas e leva-los ao Lodge, para preparar-nos para voar a Yambio.
Com eles vinha também um casal, com quem eu também tinha caçado em Moçambique, a Maria e Enrique Jofre, acompanhava-os a sua filha Ivone, que era a primeira vez que vinha a África. Eles caçariam com o Noel a partir do mesmo acampamento em que caçaria eu.
Rosa chamou-me de lado e informou-me que Federico tinha tido um ligeiro enfarto, e que não queria que ele se cansasse. Eu prometi-lhe que faria o possível, porque me importava muito a saúde do meu amigo, que foi um homem chave na minha mudança de Moçambique para Angola, ajudando-me financeiramente, pois eu tinha perdido muito, ficando somente com os carros. Também o grupo de amigos de Barcelona, e um outro grupo de Sevilha, tinha posto à minha disposição uma quantidade bastante grande de dinheiro, para que eu usasse, para organizar outra vez os safaris. Isso que fizeram ficou gravado na minha alma e somente lhes posso pagar ligeiramente, com a amizade incondicional, que lhes tenho há tantos anos, aparte de liquidar aquilo que me tinham emprestado. Por isso falamos muitas vezes por telefone. Federico e Enrique, tem agora mais de 80 anos e Federico continua a fazer as suas viagens a África ( Zâmbia ), onde tem um filho que tem um luxuoso acampamento, não para caçar, mas para levar safaris fotográficos. Claro que sempre me convidam a ir passar temporadas com eles. Qualquer dia lá estarei.
Continuando.
Saímos da Juba na manhã seguinte para Yambio onde chegámos uma hora depois, usando o último aviâo que eu tinha comprado, que era um Piper-Aztec de 6 lugares e bi-motor, e no qual tive que viajar para levá-lo de Halifax, Nova Escócia até a Juba, passado pelo Círculo Polar Ártico, mas isso é outra história.
O Noel tinha ido adiante no dia seguinte, pois ele sempre caçava na savana, para levar o jeep e o pessoal.
Ao chegar, fomos ao Departamento de Caça, como sempre fazíamos a registar-nos.
Chegámos ao acampamento e veio um dos meus pisteiros o Hassan a dizer-me que os bongos estavam a ir todas as noites a uma "salina" que nâo estava nada longe do nosso acampamento.
John o meu outro pisteiro, "emprestei-o" ao Noel, porque ele nâo conhecia a área e eu queria que ele, tivesse um bom guia para poder fazer um bom safari com os meus amigos.
Na manha seguinte, disse ao Noel que fosse a essa salina para ver se encontrava o bongo e somente lhe disse que seguisse as instruções do John que sabia muito dessa espécie de caçada.
Noel era um bom caçador, mas a floresta fechada, dava-lhe claustrofobia, segundo ele e, então trocávamos de clientes. Ele fazia uma parte na savana e mandava-me os clientes para a Floresta, onde eu caçava os elefantes, bongos e também a parte dos pântanos.
Saímos vários dias e não conseguíamos caçar nenhum bongo, até que uma manhâ eu ía adiante por um carreiro, que me levava a uma dessas salinas que mencionei, e vi umas pegadas de bongo grande e começámos a seguilas muito devagar. Pelo excremento podíamos ver que ia adiante de nós e não estava longe. Pedi a Rosa, que viesse para o meu lado e que levasse a 375 preparada, para o que se avistássemos o bongo, ela disparasse rápido.
Uma das razões porque usávamos armas pesadas na floresta para os bongos, era porque num dos primeiros safaris, o meu bom amigo Alfonso de Urquijo, levava uma arma de calibre pequeno e duas vezes atirou aos bongos e falhou, e vimos que a bala ao encontrar na trajectória uma pequeníssima rama, tinha as duas vezes desviado o tiro. A partir daí, aprendi a lição e pedia aos meus clientes que atirassem com pelo menos 375.
Seguimos muito devagar nas pegadas do bongo e à entrada de uma floresta vimos um belo animal, com uns bonitos cornos e um grande troféu.
A Rosa apoiou-se no meu ombro e disparou. O bongo correu, mas eu vi que estava ferido de morte. Caiu uns 50 metros dentro da floresta.
Arrastámos o animal para fora para poder tirar a foto que aqui ponho, onde estava a Rosa e eu. Esta mulher era uma grande caçadora.
Passaram-se dias em que caminhámos muitas vezes atrás dos elefantes sem ver nenhum que nos gostasse, até que Hassan, veio um dia e disse-me que fossemos à floresta do Rio Sue, porque lhe tinham dito que lá havia muitos elefantes.
Fomos até a uma povoação e encontrámos uns homens que nos disseram que os elefantes estavam na parte mais fechada do Rio Sue.
Dirigimo-nos para lá, e a floresta começou a ser das mais densas onde eu tinha caçado até aquele momento. Numa clareira da floresta encontrámos a tumba de um dos grandes chefes Azandes daquela área. os elefantes tinham passado por aquele lugar.
(na foto: Rosa, Hassan e eu)
Hassan, disse-me que queria pedir ao espírito do chefe que nos desse sorte e falou por um buraco da tumba que era como uma construção de pedra e cimento, algo que nâo entendi.
Continuámos até que ouvimos os elefantes na floresta mais fechada daquele lugar. Nâo se via nada, tínhamos uma visão de uns 2 metros ou três nada mais. Dirigi-me na direcção do ruido dos elefantes e vi que estavam abaixo de nós, pois o declive para o rio era muito acentuado. Perguntei a Rosa se queria entrar num lugar que era perigoso. Ela disse-me: Se vais tu, eu não tenho medo. Eu sim estava "cagado" de medo, ela não sabia o que era uma carga naquela floresta, Começámos a baixar e não tínhamos dado nem dez passos, quando vi à nossa altura um elefante macho que nos estava a observar. Rosa levantou a 416 John Rigby, e eu a 577 e disse-lhe:
-Dispara.
Atirou e eu atirei também, porque aí não havia que brincar, e sentimos que o elefantes desapareceu, somente o ruido da estampida da manada.
Agarrei a Rosa pela camisa e puxei-a para trás para a parte alta, porque aí ainda que fosse densa a floresta, não era tâo fechada como abaixo.
Federico estava atrás com a sua arma na mão, quando vimos que a menos de 10 metros de nós saiu um elefante grande, que não era o típico elefante da floresta, com pontas grossas, disse-lhe atira-lhe ao "codillo", à altura do coração e ele atirou rápido sendo secundado por mim. Deixei a Rosa numa boa árvore e corri para ver o elefante cair um pouco mais adiante.
Tínhamos dobrado os elefantes num lance que nunca mais nos esqueceria por muitos anos que vivêssemos.
Fomos ver o o elefante de Rosa, tinha rolado para dentro do Rio Sue, e tinha cravado as pontas no "matope" do rio.
Tivemos que cortar muitas ramas e árvores pequenas, para poder tirar a fotografia que vos ponho aqui.
O mesmo sucedeu com o elefante de Federico. Notem a mão do homem em comparação à grossura da ponta que tinha um bocadinho partido.
Para Federico, como ele dizia, valeu mais aquela caçada que todas as que tinha feito a elefantes posteriormente.
Com esta narração no meu "portunhol", termino aqui umas poucas aventuras que fiz no Sudão, o qual tive que abandonar em 1982, por ver que a guerra civil ia começar naquele país e eu já tinha passado por duas, não queria atravessar por uma terceira.
Deixei o Sudão para nunca mais voltar.
Victor "Hunter"

1 comentário:

Luisa Hingá disse...

Os textos serão corrigidos asap(as soon as possible) e aproveito para informar que o autor vive no México há muitos anos, daí os acentos diferentes.
Vale a pena ler tudo, ou reler.