quinta-feira, setembro 20, 2007

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS – MOÇAMBIQUE 3

José Simões. Mariano Ferreira e eu fomos para Lourenço Marques, para apresentar a nossa petição ao director dos Serviços de Veterinária, que naquele tempo era uma boa pessoa com quem o Simões tinha uma magnífica relação, que era o Dr. Castro Amaro.

As pressões da Safrique, através do Banco Nacional Ultramarino, não se fizeram esperar, mas tivemos a sorte que naquele tempo havia alguns jornalistas que eram amigos, e que o meu bom amigo Aderito Lopes, também jornalista, que tinha estado vários meses no acampamento do Kanga Nthole comigo e no qual fizemos uma boa amizade, moveu os cordelinhos e começaram a sair artigos nos jornais de Lourenço Marques a falar do monopólio que queria a Safrique a comprar as coutadas do Armindo Vieira, do Araújo e tudo o que podia.

... uma manhã recebemos uma chamada no Tivoli do Dr. Castro Amaro, para que os apresentássemos na Veterinária. Tinha um mapa das coutadas sobre a mesa, e perguntou-nos o que é que queríamos.

Eu pedi a Mazamba e a Macossa. O Simôes o tando do Chiniziua, e o Catulene. O Mariano pediu Inahmitanga até ao tando do Botão e assim ficamos estrategicamente instalados al redor das coutadas da Safrique.

Porque eu aparte dessas áreas sempre cacei no Rio Muira a norte da Coutada 9 da Macossa, pois aí tinha eu construido um acampamento, quando caçava com o Salzone, que aproveitei, para mim depois, quando o Salzone vendeu a coutada ao Champalimaud.

Isto contei-o em meia dúzia de linhas, mas se soubessem o que custou conseguir essas áreas... um trabalhão, metendo e falando a Portugal, com pessoas verdadeiramente importantes naquele tempo.

...Construimos acampamentos que eram verdadeiramente bonitos e confortáveis, com os pouco recursos que tínhamos.

Durante esse tempo não tivemos um só cliente que tivesse alguma queixa dos seus safaris.

Não tínhamos os recursos do Banco Nacional Ultramarino, mas tínhamos uma coisa: bom gosto, e entusiasmo para fazer as coisas.

Lembro-me que o fiscal Dias, que era muito “amigo” da Safrique, era um tipo que andava sempre sobre nós, até que um dia eu “fiz-lhe ver” “delicadamente”,... que me deixasse em paz, e nunca mais voltou. Digo isso não para gabar-me ou por ser bravo, nada de isso, é que ele um dia levou o MEU PISTEIRO FOMBE, para o Dondo, para ver se lhe conseguia sacar alguma coisa, por causa de um hipopótamo que apareceu morto numa lagoa que havia, a uns 500 metros da linha de marcação do Parque Nacional e que eu não tinha nada a ver com isso. Claro que o Fombe era uma tumba e não disse nem pio. Hoje posso dizê-lo, que eu sim sabia que o meu amigo Júlio Barroso o tinha morto, para dar comida aos trabalhadores da plantação de algodão que tinha muito perto do nosso acampamento.

Que fiscalizasse, muito bem porque isso era o seu trabalho, mas que fosse a casa do Fombe buscá-lo e levá-lo para o Dondo para força-lo a dizer qualquer coisa, isso sim que me pôs fulo. Desde esse dia nunca mais vi o Dias por aquelas paragens e quando passava no Dondo, selavam as licenças para eu poder passar e nunca mais me verificaram o que levava. Passaram a “confiar” em mim. Até que um dia...


...Na foto, Luis Martin de Oliva, de Sevilha, Javier Alonzo e eu. Esse acampamento estava todo feito com troncos de pau-ferro, e as juntas feitas com cimento branco.

Nâo se podia cravar um só prego, tinha que ser feito um furo com uma broca e entâo podíamos meter os pregos.

Ficou uma maravilha porque de longe parecia uma aldeia dos indígenas da regiâo, mas por dentro estava divino.


Outra vista do acampamento por dentro.


Dentro do Rio Pompué, que é afluente do Zambeze, fizemos um poço, com aneis de concreto, para poder ter uma água limpa e cristalina, que era filtrada pela areia branca do rio.

Nesta área, os meus clientes obtiveram grandes pala palas, Nyalas e Elefantes.

Se se lembram da Senhora Rosa Segura, da qual falei quando escrevi sobre o Sudâo, pois aqui ela tambem conseguiu caçar dois elefantes numa floresta que eu conhecia, havia muitos anos, e que ninguem caçava...

Na seguinte fotografia está Rosa Segura com um dos elefantes que caçamos naquela área.


Esta senhora, e o seu marido Federico, vinham todos os anos passar um safari de 30 dias comigo e sacávamos todas as licenças e senhas que a lei dava licença.

Eu reservava sempre a senha de um elefante que eu comprava para que se encontrássemos algum melhor do que havíamos morto, ela lhe pudesse atirar. E o registava ao meu nome, para poder depois enviá-lo a Tarraza, perto de Barcelona, onde eles viviam.


Os elefantes cairam a uns vinte metros um do outro, mas, até agora nâo consegui encontrar a fotografia do outro.

No ano anterior a Rosa também caçou um elefante razoável na Mazamba. A foto seguinte é das pontas de outro elefante que conseguimos na área do acampamento da Mazamba.



Cada vez que vejo estas fotos, começo a pensar nos anos que passaram e as voltas que deu a vida. Federico tem já 81 anos.
Cada vez que falo com ele pelo telefone, ouço-o com voz sã, não parece a idade que tem.
Grandes amigos.


Este era o acampamento do Catulene visto de fora, que como dizia, parecia um aldeia indígena, mas era uma maravilha de acampamento, e muito bonito por dentro. As cortinas e as colchas das camas estavam feitas de pano de capulana , com cores vivas, que lhe davam um ar alegre e confortável. (as árvores que se vêm na foto, sao árvores de maçanicas, aquelas amarelinhas que eram deliciosas).

Aquí pelas tardes podíamos atirar com a caçadeira aos “sand grouse” , uma ave que parece uma pequena codorniz, que vinham a beber ao rio aos milhares.

Atirávamos até nos cansarmos, pois tinham um sabor esquisito, quando se preparavam estufados com cogumelos e acompanhados de uns espargos brancos. Mmmmmm somente de lembrar-se me me faz água na boca.



Victor “Hunter”

Sem comentários: