quarta-feira, outubro 04, 2006

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 12

Ao deixar o deserto Pit e eu nos fomos direitos a Sá da Bandeira, onde passámos o dia e a noite para sairmos demanhâ às seis da manhâ num aviâo que nos levaria às terras do fim do mundo.
Ás seis em ponto estávamos preparados para descolar, em direcçâo à cidade de Serpa Pinto, onde teríamos que aterrar e encher outra vez os tanques de gasolina, para continuar viagem até ao acampamento e para que o piloto pudésse regressar.
Era um aviâo Cessna, e a distância que íamos percorrer era mais ou menos de 1100 kilómetros. Demoraríamos quase 5 horas para chegar ao destino, mas valia mais isso que aguentar a viagem por terra que quase sempre demorava 30 ou mais horas.
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Quando durante o ano tivemos que fazer essa viagem, sempre conduzíamos duas pessoas por um período de duas horas cada um e assim chegávamos menos cansados. Enchemos os tanques e fomos até ao hotel Srpa Pinto para almoçar e depois de conversarmos com uns amigos que viviam naquela cidade, voltamos a subir-nos ao aviâo para dirir-nos ao acampamento, ao qual calculámos chegaríamos em duas horas e meia.
Chegámos ao acampamento conforme estava previsto. Meia hora antes de chegarmos, falámos por rádio e Noel veio buscar-nos ao campo de aviaçâo.
Carregado a bagagem e as armas de Pit no jeep, dirigimo-nos ao batelâo para passar para o "nosso" lado.
Como sempre os rapazes militares que estavam no aquartelamento foram ajudar-nos com o cabo do batelâo.
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Nesta foto está Pepe Godoy, um cliente espanhol que estava já caçando no nosso acampamento havia quase três semanas eu e vê-se um pouco de Mucungo um dos pisteiros camechequeres ou bushman).
Chegámos ao acampamento com bom tempo para dar-nos um banho quente, e jantar para que na manhâ seguinte retomássemos a continuaçâo do nosso safari, interrompido por dois dias de viagens. Começaríamos no acampaento do Sacaxai, para depois mudar-nos para o acampamento do Dirico, onde aí terminaríamos o safari.
Como isto sâo somente Retalhos das minhas memmórias falarei de alguns dos trofeus dos muitos que Pit adquiriu, neste safári que tiveram exito na apresentaçâo deles na Convençâo do Safari Club International.
Uma manhâ íamos devagar porque estava um frio que cortava, pois nâo sei se sabem mas o Sul de Angola nos meses de Julho e Agosto, sâo os lugares mais frios que existem em África. Ao deixarem um balde de água fora exposto ao frio da noite, havia noites que se transformava num bloco de gelo. Por isso andavamos sempre bem agasalhados até mais ou menos às 9 da manhâ; no Toyota levávamos um saco de lona para começar a meter as camisolas e os anoraks e casacos de pele, que tínhamos que usar demanhâ quando saíamos a caçar e, para as noites, quando regressávamos aos acampamentos.
Pois como dizia, íamos devagar e vimos entre a floresta aberta que íamos atravessando uma boa manada de Pala-Palas ou Palancas Pretas. Parámos o carro e caminhámos um pouco com o vento a nosso favor para ver se conseguíamos ver um macho que vaesse a pena como trofeu. Eu com os binóculos procurei entre mais de 30 animais e do outro lado da manada aí estava um macho imponente. Parecia "quase" uma Palanca Gigante, mais pequena, claro. Disse-lhe a Pit que nâo tirásse os olhos dela e que o seguisse com a lente da sua 270. Pit estava com a mâo apoiada numa pequena árvore vendo pelo óculo da espingarda. As Palancas estavam bastante tranquilas e iam caminhando devagar. Ouve um momneto que o macho parou e Pit nâo perdeu tempo. Um tiro e ouvi o "ploff" que soa como um tambor surdo, quando o animal é atingido. Vi a Palanca correr com uma grande velocidade e desaparecer no meio da floresta aberta.
Caminhámos pelas marcas das pegadas dos animais com Fombe e Mucungo adeante. Caminhámos 30 metros e Fombe fez aquele ruido típico com a lingua que fazem os caçadores que soa como um beijo seco e disse em sena: "chiropa", sim aí estava o sangue que ia soltando a Pala Pala, cada vez era mais. Era um sangue côr de rosa com borbulhas, tinha dado um tiro nos pulmôes. Caminhamos uns 5o metros mais lá estava a Palanca Negra no châo exalando o seu último suspiro.
Aproximámo-nos ao animal por trás e Oh surpresa era uma animal fantástico, mediu quase 46 Polegadas, faltava-lhe 1/4 para chegar às 46" era o que nós chamávamos "um monstro".
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Este Pit sim tinha sorte. Cada animal que caçava era o que nós na giria dos caçadores chamávamos "record class" Durante alguns dias continuámos o nosso safari, tentanto conseguir os melhores trofeus possíveis.
Todas as noites do meu quarto eu falava com os outros acampamento e especialmente com Sá da Bandeira, para ver como "iam as coisas" com a "transiçâo e entrega do território aos novos angolanos". Tinha estado a falar com o comandante do destacamento que estava do outro lado do rio e ele disse-me que em poucas semanas abandonariam o lugar para dirigir-se a Serpa Pinto e serem embarcados para Luanda de regresso a Portugal. Isso sim deu-me muito medo, e uma incerteza no meu futuro, que algumas vezes apesar do cansaço, nâo me deixava dormir.
Tínhamos que cumprir com os compromissos adquiridos com os nosso clientes e agentes. Somente pedia a Deus que me deixasse terminar esses safaris que tínhamos contratados, para no ano seguinte decidir o que faríamos com a nossa vida.

Continuarei..

Victor "Hunter"

terça-feira, outubro 03, 2006

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 11

Creio que todos os caçadores guias tiveram como eu, clientes que repetiram safaris ano atrás ano; alguns seguidos outros de dois em dois ano, e alguns que repetiram duas ou três vezes.

Eu tive a sorte de ter varios, especialmente de Espanha, varios casais que todos os anos as suas férias de Julho ou Agosto era para passar em África caçando e gozando das nossas praias e comidas. Era o caso dos bons amigos catalans Rosa e Federico Segura, Carmen e Amadeo Torrens, Maria e Enrique Jofre, Pilar e Jaime Mercader, estes da área de Barcelona e com quem até hoje mantenho contacto telefónico. Havia dois de Madrid, que infelizmente já nâo estâo conosco, que era o Arq. Fernando Moreno Barberá, e o meu quase irmâo Carlos Arrate Mendizabal.
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Carlos e eu éramos uns amigos incondicionais, degraçadamente um cancro de pulmâo matou-o, quando ele fez 49 anos.

Depois desta foto, nesse ano, Carlos foi operado e tiraram-lhe um pulmâo, acabando por morrer três anos depois. Eu estive ao seu lado, porque ele foi para mim o irmâo que nunca tive.

Havia em Sevilha o meu grande amigo Javier Mencos, Marquês de las Navas de Navarra, que mais tarde veio a ser meu tio político, pois casei com uma sobrinha sua. Esse repetia todos os anos, e até deixava parte da sua equipagem de caçador em minha casa para nâo ter que andar a carregar as coisas ano com ano.

Depois um grande amigo americano, Pit Sanders, que ia aonde eu estivesse e, fazia um safari cada dois anos, tambem Robert Eastman, nos seguia a todos os lados de África onde caçasse-mos. Houve muitos e se tivesse que mencionar a todos teria que escrever toda uma pagina para isso.

Pois aqui vou falar de Pit Sanders intercalando alguma das velhas fotos que ainda conservo. Com Pit fomos à Espinheira uns dias, logo que ele desembarcou em Sá da Bandeira. Eu tinha estado convidado na sua casa de Massillon, Ohio, e ele conserva até hoje os trofeus que o seu pai caçou e, aí vai juntando os adquiridos por ele. Sabia que ele queria um bom kudo do deserto, um klipspriger, aquele animalzinho que anda nas pedras, e uma impala de cara preta, mas infelizmente nâo se poude, porque tinham prohibido a caça a esse animal em Angola.No primeiro dia, caçamos uns springbucks para a cozinha e para deixar posto uma isca para o Hernani Espinha, que nuns dias viria com um cliente a caçar uma semana à Espìnheira.

Saímos uma manhà e fomos em direcçâo à serra que se via ao longe e para o lado do Rio Curoca, quando menos esperávamos o guia que sempre levava o do burro que encontrei nas dunas mostrou-me um bonito klipspringer, no alto de umas rochas, olhando para nós.

Sentía-se seguro na altura que estava. Para Pit era um tiro de precisâo, e eu como o conhecia, disse-lhe aí está o teu Klipspringer, queres tentar um tiro daqui? Sào mais de 250 metros, talvez 300. Pit Baixou-se do Toyota, e apoiando-se nas barras do rollover apontou a sua 270 Remington Magnum e vio espremer muito devagar a mâo e o dedo ao mesmo tempo e tiro que saiu e klipspringer morto. Ficou no alto da rocha. Foi necessário mandar os ajudantes subir até lá, o que demorou mais de meia hora, para poderem trazer-nos o trofeu.
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Era um record, pelo qual Pit no ano seguinte recebeu uma medalha do Safari Club International.

Buscámos e encontrámos vários kudos, mas nenhum que víamos era o que eu chamo interessante para a qualidade de caçador que é Pit. Saíamos muito cedo, antes do nascer do sol para ver se encontrávamos o grande, que buscávamos. Um dia chegámos quase à estrada que vai de Moçâmedes para Sá da Bandeira, lugar onde havia uma grande quinta que se dedicava a criar os borregos “caracul” que mais tarde ao fazerem os casacos para as senhoras, perdem o nome para chamarem-lhe “astracan”, os tais borregos que matam logo que nasce, e que chamam tambem “non-natos”.
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Demos a volta para regressar ao acampamento, e derrepente no meio de umas espinheiras, a uns 4 ou 5 kilómetros da quinta, vimos aquele kudo, estático, no meio de umas espinheiras, que se nâo fosse pelos olhos treinados que temos de tantos anos andar nisto, passaria despercebido. Mostrei-o a Pit e evidentemente um tiro e Kudo morto. Este Pit raramente falhava um tiro. Era dos bons.

O que tínhamos vindo fazer ao deserto, estava terminado, agora era tempo para regressar a Sá da Bandeira para que em dois dias voássemos às “terras do fim do mundo”, para continuar o nosso safari.

Victor “Hunter”


Nota: Estas fotos têm muitos anos e estâo em albuns velhos. A qualidade da fotografia nâo é boa, mas é o melhor que posso fazer.


RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 10

Tinhamos ficado na nossa viagem até ao Acampamento da Espinheira.Neste acampamento, dependia do mês, os Orixes ou Gemsbucks, podiam estar perto das dunas do Rio Curoca, onde nos abastecíamos de água, ou simplesmente metidos nos vales, que eram umas pequenas ondulaçôes no terreno onde havia uma
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grande quantidade de "pepinos do deserto", que eram alguns dos frutos com que eles se alimentavam, e tambem dos "melôes do deserto", que em alguns lugagres havia quantidades imensas,
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aparte de ramas de espinheiras e de alguns cactus. Provei os melôes do deserto e tinham um sabor horrível, mas muito sugosos, que lhe davam aos animais a água que necessitavam para o seu organismo.
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Se havia pepinos e melôes, os Orixes geralmente nâo andavam muito longe. Perguntarâo como é que um caçador que veio de Moçambique, onde nâo havia esses desertos, sabia dessas coisas e se movia pelo deserto como se fora o seu ambiente de toda a vida?

Pois bem, aí vai a história o mais curta que a possa contar.

Andava eu com o meu pessoal Sena de Moçambique, a "apanhar bonés", porque via springbucks a montôes, via pégadas de leopardos, avestruzes etc, mas de Orixes nada, até que um dia que andava perto das dunas, vi ao longe um rapaz que vinha baixando uma dessas dunas montado num burro. Primeiro perguntei-lhe para onde ia e que fazia por aquele lugar. Ao dizer-me que era da raça Curoca e que vinha de Porto Alexandre, e que ia para sua casa perto do rio onde tinha o seu gado, eu pensei: -este tipo tem que conhecer estas paragens bem para vir através das dunas- A seguinte pergunta, como nâo podia deixar de ser era, se tinha visto alguns Orixes? A resposta pronta do ràpaz foi: Senhor os Orixes neste tempo nunca andam aqui. Agora andam nas dunas do outro lado do rio e nas pedras do Curoca,

Sorte a minha, (sorte de caçador), este homem tinha sido o guia de um dos mais antigos caçadores que havia em Moçâmedes o Tendinha. Claro que foi imediatamente contratado, e o Fombe instruido para que lhe "sacasse" os "segredos" de caça que ele pudésse ter. A partir daquele dia nunca cliente algum se foi sem levar o seu Orix. Nesse lugar, mal chegávamos ao acampamento com algum cliente, a primeira coisa que fazíamos era matar um springbuck ou cabra de leque e por iscas para leopardo, porque nesse lugar havia-os por todos os lados. Talvez quem saiba um pouco de caça, pergunte: "Porquê tanto leopardo e no deserto?" Simples: aí há montanhas cde pedras que parecem que foram postas umas sobre as outras, com alturas que eu calculei com mais de 400 metros ou mais, nâo falando nas montanhas que nesse lugar eram imensas onde nunca fomos. Estes montes de pedras estâo povoados por milhares de "ratos das pedras" ou os Rock Hyrax (Procavia capensis), que dizem que é o ser vivo mais parecido ao elefante (?). Alimentam-se de tudo o que encontram: folhas, ervas, lagartixas, insectos, frutos e raramente bebem água. Pois ao haver tantos destes animais, os leopardos que por natureza sâo preguiçosos, como todos os gatos, tinham aí a mesa servida. Comiam três ou quatro destes animaizinhos, e nâo tinham que andar a cansar-se a correr atrás de alguma cabra de leque.

Ah! Mas quando lhe punhamos bem uma isca, entravam logo na primeira noite. A mim com um bom amigo de Barcelona que levei várias vezes de safari, o Sr. Amadeo Torrens, encontrámos dois a lutar pela isca que tínhamos posto. Como tanto ele como a sua esposa Carmen tinham licença, abateu os dois um atrás de outro.Esse safari que era composto por um grupo de casais catalans, ou catalanes, levei tambem uma noite ao meu bom a migo Federico Segura e a Rosa sua esposa, e abateram dois fantásticos leopardos.
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Até o Rei de Espanha, D. Juan Carlos, há muitos anos abateu com um tiro pèrfeito ao belo leopardo naquele lugar.

Como dizia havia-os por todos os lados. Igual que nas "terras do fim do mundo", o Mucusso.

Lembro-me que uma noite em que estávamos no acampamento do Chipuizi (Mucusso) e a esposa do Amilcar Jorge, apeteceu-lhe ir ao banho de noite, agarrou a lanterna e saiu da tenda, pois naquele tempo ainda nâo tínhamos o acampamento fixo, e a minha pobre amiga, deu um grito de arrepiar, porque viu um leopardo sentado a olhar para ela dentro do acampamento.

Pobre leopardo , deve ter-se assustado tanto, que somente deve ter parado a muitas milhas de distancia.

O susto foi para nós porque pensámos que alguma coisa lhe tinha sucedido.

Continuaremos

Victor "Hunter"

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 9

Vou-lhes contar um safari como fazíamos em Angola.
Com esta descripçâo, ficarâo mais o menos com uma ideia como eram os safaris nessa ex-colonia portuguesa.
Faziamos safaris pequenos de 8 a 10 dias somente no deserto.
Depois vinham os safaris no Mucusso (terras do fim do mundo) que eram quase sempre de 21 dias, que era os que habitualmente fazíamos.
E finalmente o safari que eu chamava mixto que eram três semanas no Mucusso e uma semana no deserto.
Quando o cliente queria estar 10 dias a caçar no deserto, o que fazíamos era levá-lo primeiro ao que se chama propriamente deserto, onde a vegetaçâo é quase nula; alguma espinheira e alguns cactus, e de onde em onde uma das plantas mais raras do mundo as Velvichias mirabalis .

Depois de caçar nesse lugar os animais do deserto, ou sejam os Orixes, leopardos, springbucks, uma que outra zebra de montanha, seguíamos para outro acampamento que era o Chingo, onde aí dávamos caça às Impalas de cara preta, aos grandes Elands aos kudos que aí eram enormes, pois havia uma vegetaçâo já bastante densa, ainda que fora uma área semidesertica.
O deserto do Namibe é a continuaçâo do Deserto da Namibia, (nâo confundir um com o outro). Aí se encontram as maiores dunas do mundo, apresentadas centenas de vezes por a National Geographic, pelo Discovery e muitos mais documentários, apresentadas tambem em revistas e em muitas paginas da web.
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Sâo as únicas dunas no mundo que têm aqule cor vermelha alaranjada, pois a concentraçâo tâo grande de óxico de ferro, ao dar-lhe a luz, da-lhe imensas tonalidades dos vermelhos.
Aqui nesta regiâo há três grandes tribus. Os Mukubais, que nâo sâo mais que uma derivaçâo da maior tribú que é a Himba e que vive na fronteira da Angola e da Namibia, e os que se chamam Curocas, que sâo tambem uma rama dos Mukubais.
Ainda que todos venham da mesma raiz, e todos sejam criadores de gado, os do "nosso" lado sâo mais "civilizados", o que é uma pena porque "quase" acabaram com as tradiçôes tâo bonitas e, as mais puras que têm os Himbas, que é uma das raças que eu mais admiro.
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Note-se: a primeira mulher mukubal, veste-se com panos, e geralmente quando vê alguem tapa-se, mostrando a "vergonha" que le inculcaram, primeiro os missioneiros, e depois nós os portugueses.
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A mulher Himba que se vê na foto está muito orgulhosa da sua vestimenta de pele, toda "embadurnada" com uma argilha ocre misturada com mateiga de vaca.
Tèm uma pele que poderia dar inveja às modelos e artistas mais cotizadas, pois sente-se como veludo. Palavra de honra, que eu senti isso-jejejeje.
Sabem ser coquetas a sua forma e vivem num matriarcado.
Quase sempre saíamos de Sá da Bandeira, demanhâ bastante cedo, para poder chegar antes que o calor apertasse muito.
Ao Sair de Sá da Bandeira, começavamos a subir a Serra da Leba até à sua maior altitude, para depois começarmos a baixar do planalto para a zona árida num declive de 1.800 metros, por uma estrada tortuosa, que foi um dos grandes logros da engenharia portuguesa.

Depois de baixar a uns 20 kilómetros da base da Serra, encontrávmos uma picada de terra batida que nos levava ao acampamento da Espinheira.


(Continuarei com as minhas memorias até que digam que pare)

Victor "Hunter"

RETALHOS DAS MINHA MEMÓRIAS 8

Esta é uma pequena anedota que passou na coutada do Mucusso num dos anos que caçamos lá. Os nossos agentes Kleinburger de Seatle, mandaram-nos para fazer um safari de 21 dias a um casal jovem da cidade de Kirkland, que fica nas magens do Lago do mesmo nome no Estado de Washington, sabem aquele que faz fronteira com a British Colombia.
Pois bem para nâo ferir a ninguem vamos dizer que ele se chamava Erick e ela Sandy, nomes comuns nos Estados Unidos.
Ele era um jovem exitoso que tinha uma fabrica de T-Shirts. O típico jovem americano, desportista, com um sorriso franco e evidentemente muito enamorado da sua esposa Sandy, com quem tinha um filho ainda pequeno, que tinham deixado com a mâe do nosso amigo Erick.
Vinham com a ilusâo de conhecer África pela primeira vez e diziam que era maravilhosa e que pensavam repetir muitas vezes os seus safaris.
Ela- Ela era uma beleza loira, com um corpo de pecado, descendente de uma familia Sueca, com um cabelo comprido loiro e com uns olhos azuis profundos como duas turquesas, que fascinavam somente olhar para eles.
Como eu conhecia bem aos meus companheiros, nâo os queria a caçar com o Javier Alonzo, pois era o "carita" do grupo, com o Noel muito menos, porque o conhecia bem. Nâo podia ver uma vassora com saias que ia atrás dela, e com o Amilcar tambem nâo porque o conhecia e sabia como actuava qiando viajávamos junstos a Europa etc etc.
Entâo para estar mais descansado e nâo ter problemas maiores, pus o casal a caçar com a Antonio Guerreiro, o que está no meio da foto das minhas memórias (2).
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Antonio media um metro sessenta, mais ou menos, e até me dava graça porque quando guiava o jeep Toyota quase nâo se via, pelo baixinho que era. Sempre andava chupando num velho cachimbo e , ainda que fora muito amigo meu, eu nâo o considerava uma pessoa atractiva que fosse enamorar a Sandy.
Que enganado estava.
O Antonio sempre conduzia ele o jeep, nunca quiz chofer e pelas manhâ como fazia frio, a Sandy ia dentro do carro, e o marido sentado fora, para ver os animais que podia caçar. Segundo Sandy, o nosso amigo Antonio andava sempre cantando cançôes brasileiras e nâo sei o que se passou o que sei, é que um dia estava eu no meu quarto depois de ter tomado um banho entrou o Antonio; sentou-se na minha cama e disse-me:
"Tenho um problema". -Que passou Antonio? " A Sandy disse-me que quer deixar o marido e ficar aqui comigo em Angola, que nâo quer voltar aos Estados Unidos"- Porra ! Antonio, nâo me digas que fos-te com ela para a cama? Como fizes-te isso c.br..? Com o marido aqui, nâo vez que te pode dar um tiro. estás louco ou quê?. Antonio disse-me que ela uma noite veio ter com ele atrás onde guardavamos os jeeps e lhe jurou que o amava e que nâo queria nada que ver com o Erick.
Vamos lá a ver o que vais a passar. Antonio por favor, te rogo que nâo te metas em problemas e nâo nos metas a nós em problemas também. Eu estava fora de mim. Imagina aquela beleza nórdica, estava apaixonada pelo Antonio Guerreiro.
Mas a coisa nâo ia acabar aí.
Nâo tardou um dia que recebi a "visita" da Sandy, e contou-me que estava "in love" com o Tony, que queria ficar em Angola e a ver se eu a podia ajudar. "Xissa- porquê eu?" Falei com a Sandy com calma, falei-lhe do filho que tinha, do marido que a amava que nâo deitasse tudo a perder por causa dum calentamento. Ela jurou-me que nâo era isso que adorava o Antonio. Eu falei-lhe da Catarina a mulher do seu Tony como ela dizia, dos dois filhos que tinham e que ela nâo tinha o direito de estragar uma vida de muitos anos juntos.
Disse-lhe vai para os Estados Unidos e deixa passar um tempo e entâo se decides voltas aqui.
Ficou um pouco mais tranquila, mas muito pouco convencida.
Eu pensei que tudos estava arranjado- WRONG, Equivocado.
Dois dias depois veio o Erick falar comigo, e disse-me assim : "Eu sei que a Sandy está apaixonada pelo Tony, nâo culpo ao Tony, mas Victor fala com ela que nâo estrague o que estamos construindo com tantas dificuldades."
Prometi ao pobre Erick que falaria com ela.
Para nâo fazer a historia mais larga, digo-lhes que o safari terminou, levei os clientes todos ao aviâo e quando chegou à hora da despedida vi a Sandy beijar o Seu Tony, e chorar como uma Madalena agarrada a ele. Eu queria um buraco na terra para esconder-me, mas nâo havia.
Total somente pude respirar normalmente quando vi o aviâo no ar.
Agarrei ao Desgraçado do Tony e disse-lhe- NUNCA MAIS ME FAÇAS UMA DESTAS.
ele riu-se com um sorriso sacana, que me deu vontade de dar-lhe um murro no nariz.
Quando fui nesse ano à promoçâo, estive na casa da Sandy e do Erick e ele tinha-lhe oferecido um fabuloso Jaguar de boas vindas aos Estados Unidos e ela, nâo sei onde as conseguiu, mas punha as musicas brasileiras que costumava cantar o Seu Tony Africano.
Estas coisas nâo passam muito, talvez um par de vezes em cada 100 ou 200 safaris.
Graças a Deus.
Eu perdi um cliente, porque o Erick nunca mais regressou a Africa a caçar e dedicou-se à pesca la no Lago Kirkland.

Aqui nâo pude por fotos ainda que existam por óbvias razôes.

Victor "Hunter"

Esta foto, foi somente para encher um pouco a página.

segunda-feira, outubro 02, 2006

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 7

Para que nâo se diga que se fala de organizaçâo de safaris, de logística e de alguns povos indígenas, e que até agora nâo dissemos nada dos animais e das caçadas, pois vamos intercalando algumas histórias de caça.

Os dias dos safaris naqueles dias, eram um constante vai vem de clientes. Tínhamos a sorte de que cada dia tínhamos mais clientes. Creio que há poucas companhias que possam dizer que num ano tínham feito 70 safaris que foi o nosso caso, pois tívemos que trazer para o nosso grupo, graças ao dono da Angola Safaris, o meu grande e bom amigo Hernani Espinha, que Deus tenha a sua alma em paz, porque foi um homem de bem e, um homem em quem nunca vi, nem uma sombra de inveja, nos “emprestou”, alguns dos seus guias, como foi o José Fitas, O Carlos Fortunato e por vezes os irmâos, Alfredo e Antonio Ferreira para que pudésseos fazer frente à avalanche de clientes caçadores que nos chegavam de todos os lados do mundo.

A caça em Angola era bastante diferente de Moçambique. Aí nâo existiam os grandes tandos comos os de Marromeu, ou até da Mazamba e de Cheringoma. Aí era floresta aberta onde se podia passar perfeitamente com os Toyotas. Algumas vezes entre florestas abertas, lá aperciam umas planícies, que nâo eram muito grandes, mas que estavam cheias de animais.

Ao longo dos rios Cuito , Okavango e Cuando, havia planícies grandes, mas quase sempre pantanosas em que um para meter-se tinha que muitas vezes molhar-se quase até à cintura, com exepçôes, em que em alguns lados era firme. Aí era a terra dos Red Lechwes e das sitatungas e alguns Waterbucks ou Inhacosos como lhes chamávamos em Moçambique.

Os Lechwes Vermelhos eram animais imponentes e fortes. Um pouco mais pequenos do que os Inhacosos, mas de uma côr amarela quase alaranjada. Aí conseguimos muitos bons trofeus, que nâo ficavam nada atrás dos que os caçadores da Botswana pregoavam que eram os melhores.

Os Elefantes, ah os elefantes,- esses sim eram os maiores elefantes que em tamanho de corpo eu tinha visto na minha vida. De facto o elefante considerado o maior do mundo está no museu de historia Natural de Washington que lhe foi oferecido por um dos velhos caçadores Angolanos o José Fenikovi.

Para que os meus amigos leitores possam ter uma comparaçâo vou por umas fotos de elefantes abatidos nas três grandes regiôes de África.

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Os de Moçambique eram elefantes normais, com pontas entre 20 e 30 kilos, bem torneadas e mais afiadas.

Falo dos anos de 1960/70 porque em Moçambique se caçaram elefantes até com 90 kilos de pontas, mas isso foi “nos antigamente”.
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Os elefantes de Angola eram muito maiores de corpo, e nós tivemos a sorte de encontrar alguns com pontas de 44 kilos. Grossas e toscas, e quase sempre com uma delas partida. Era muito raro que encontrássemos duas pontas perfeitas.
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Os elefantes da floresta equatorial, onde eu tambem caçei 8 anos, esses sim, eram elefante de corpo pequeno, quase metade dos de Angola mas com umas pontas que davam impressâo. Pareciam mastodontes. Um marfim perfeito, sempre húmido pelo ambiente onde viviam e cresciam, assim como pelos sais minerais que esses elefantes consumem diarimente, o que nâo passava nem em Angola nem em Moçambique.


Continuaremos a contar-lhes algumas caçadas e algumas anedotas dos nossos belos tempos das grandes caçadas, que já nâo voltarâo nunca.


Victor “Hunter"

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 6

Contei já o que foi a organizaçâo do nosso Grupo Moçambicano Safaris Ltda. As dificuldades que tivemos em organizar-nos, a logística empregada para que os safaris se podessem coordinar e, e tudo encaixar como num rompe cabeças.

Naquele tempo tínhamos como agentes nos Estados Unidos, os melhores. O primeiro o velho Roman Hupalowski, que com o seu escritorio em Chicago, num edifício da Michigan Avenue, mesmo em frente ao Lago Michigan. Este senhor mandou-nos muitos clientes durante a minha vida de caçador guia. Eu visitava-o cada ano e passava um par de semanas com ele na Cidade dos Ventos.

Tínhamos em Houston um outro agente, que a mim nâo me gostava tanto, mas tinha que respeitar, pois me tinha sido apresentado pelo Adelino Serras Pires. Com ele trabalhava uma senhora judia, Connie Burke, a quem devo muitos favores, tambem a esposa de um astronauta, Dottie Duke (o marido era o que andou com o carrinho na Lua) (que tambem me fez muitos favores), e por isso aguentava algumas "porcarias" que ele me fez durante o tempo que foi nosso agente. Ele trabalhava mais para a Safari South da Botswana e algum cliente que tínhamos contactado em convençôes ele tentou desviá-lo para a Safari South. O Xicuembo já o levou, por isso já tinha sido “esquecido” até hoje.

Depois tínhamos outro agente, arranjado tambem pelo Adelino Serras Pires, que era os irmâos Klinburger de Seatle. Esses nâo nos mandavam muitos clientes, mas no final o que podiam mandar, faziam numero. A maioria dos clientes que tínhamos eram espanhois, que já tinham caçado conosco em Moçambique, e que eram mais de 50% da nossa clientela. Eu naquele tempo vivia a maior parte das férias em Espanha.
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Podia estar aqui a contar mil diferentes “lances” de caça, pois de tantos clientes, porque nunca há um dia igual na vida dos safaris mostra-lhes animais abatidos, lo que farei mais tarde, mas neste momento estou mais interessado em contar-lhes sobre a gente que nos rodeva nos safaris.Logo que nos começamos a instalar e a construir os acampamento, começaram a chegar até nós, uns homens pequenos e de cor canela, com os olhos rasgados como os asiáticos, que nâo eram mais que os CAMECHEQUERES, mais conhecidos no mundo africano pelos BUSHMEN do Kalahari. Estes eram os melhores conhecedores daquelas áreas. Eram capazes de encontrar uma pégada de leâo, e correr sobre ela uma manhâ inteira, até dar com o leâo, seguindo-os nós com o jeep.

Quando os vi juntos, começei a ver qual deles falava português e encontrei que o que parecia ser o chefe, o MUCUNGO, era pisteiro e ofereceu-se logo para trabalhar com nosco. Tambem um primo dele, quiz fazer parte do meu pessoal de caça. Imaginem-se com o FOMBE, com o MUCUNGO e com o seu primo, as caçadas estavam garantidas, pois nos primeiros dias que estávamos a construir o acampamento do Dirico, estes três, diziam que necessitavam carne para o pessoal do acampamento e levaram-me a matar um elefante do qual tinham visto uma pégada pero do rio, e nâo tardamos um quarto de hora a estar junto a esse elefante.
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Eu começei a ver a forma como se movia o MUCUNGO e vi que era um caçador nato. Escolhia o vento, dava voltas e pôs-me a menos de 20 metros daquele elefante para que eu só tivesse que apertar o gatilho e tombá-lo com um tiro de 416.

Estes homens eram fantásticos. Liam na Natureza da mesma forma ou melhor que nós líamos alguma informaçâo sobre qualquer tema. Eu a partir daquele momento fui um dos admiradores desta raça, que verdadeiramente se chama o POVO SAN. Estudei-os, viajei com eles para ver o que comiam, aprendi como pensavam. Eles consideravam-se diferentes aos negros bantus. Chamar-lhes pretos era um insulto. Eles sempre disseram que nâo eram pretos. Eles sâo o Povo San.
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Mucungo, um dia que íamos sobre o jeep por uma picada viu umas pegadas humanas e mandou parar o carro. Baixou-se, olhou e disse: estas pegadas sâo de um primo meu que é feiticeiro, que vai para um lugar que se chama Chimbaranda a buscar a familia que está lá.Eu perguntei-lhe que como sabia ele isso?. A resposta veio pronta. Vocês os brancos escrevem cartas para deixar recados, pois nós os Camechequeres, lemos o que o meu primo deixou para eu saber. E assunto arrumado.

Tinha uma equipe fantástica de caça.



Victor “Hunter”

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 5


Quando antes falei do pessoal moçambicano que levei Angola, todos do distrito da Gorongosa e de Cheringoma, da étnia Sena, houve um especialmente a que eu tenho que fazer uma pequena homenagem, dedicando-lhe umas linhas nas minhas memórias,
Este homem, grande, de mais de 1,85 mts de estatura foi para mim o meu melhor amigo, o meu mentor, o meu professor na escola da vida do mato, o que me formou na arte de ser caçador, e mais tarde guia de safaris.
Todos os caçadores, tivémos um pisteiro, um "messire" em quem confiávamos as decisôes de saber para onde íamos cada dia que saíamos a caçar, e todos pesávamos que o "nosso" era o melhor.
Pois bem, isso passáva-me com o meu pisteiro, o meu "messire", MADORA FOMBE. Assim se chamava. Madora em língua Sena, quer dizer estrondo, dinamite, tiro forte, mas o meu pai sempre o chamou FOMBE, assim como o velho Alberto Araujo, e para nós sempre foi o FOMBE.
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(Nesta foto Fombe e eu nos 60's)
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(Fombe, Marquês de las Navas e eu com Nyala record)
O Fombe era o pisteiro dos pisteiro, o "messire" dos "messires", e digo isto porque durante muitos anos, eu conheci os melhores: O grande Macorreia do Alberto Araujo, o Sande do Salzone, o Ranguisse e o Jofrice do Simôes, o Joâo do Coelho, e tantos mais que eram uns magos e únicos na arte de mover-se nos terrenos africanos que pisavam.
Alguma vês pude reunir alguns deles, e o respeito com que tratavam o Fombe nâo era comum naquela gente. Todos o respeitavam e ouviam com cuidado tudo o que aquele homem sabia sobre o mato, sobre os animais que procurávamos, a decisâo dele sempre era tomada em conta, como que foram as palavras sábias de alguma Biblia ou enciclopédia. Sim porque o Fombe era uma enciclopédia vivente.
Se havia alguma planta que servisse para alguma coisa, ele sabia onde encontrá-la e, sabia como utilizá-la se servisse para algum fim. Que eu quando tinha os meus quinze anos tinha pé de atleta, pois ele ia ao mato e buscava uns tomates pequeninos, selvagens, amarelos, fazia uma pasta e punha-mos nos pés e assunto arrumado, Se eu tinha uma pequena queimadela, ele sabia qual era a planta que me punha para que as ampolas passassem depressa. Lembro-me que uma vez passou na minha cara, quando dormia, uma aranha que há em Moçambique, a que os chi-senas chamam "chitundira", que deixa uma rasto de baba por onde passa e queima deixando uma marca, pois Fombe foi ao mato, buscou uns bolbos que desenterrou sabe Deus onde, e com eles fez uma pasta e pôs-me no lugar por onde tinha passado a estúpida aranha e, em dois dias tudo tinha desaparecido.
Aparte de "um grande messire" era quase o meu médico de cabeceira.
A minha mâe, a quem ele chamava a "senhora grande", quando eu saia ao mato, sempre lhe dizia: "cuida bem o menino, porque se lhe acontece alguma coisa eu mato-te. Tu és o responsável dele"
E Fombe sempre tomou essa brincadeira como uma ordem, e tomava a peito essa responsabilidade. Para dizer-lhes a verdade e´até com um pouco de vergonha, quando eu tinha que ir à casa de banho, o Fombe ia comigo e estava aí por perto, até que eu terminava com o papel na mâo. Durante os frios dias dos Julhos e Agostos africanos ele que sempre me levava um café à cama, enquando eu tomava o meu café, ele até me calcava as peúgas de lâ para que eu nâo pisasse o châo, em quanto me punhas as botas.
Era uma delícia ouvi-lo contar as suas historias de caça pelas noites sentados ao lado do fogo. Eu quando era miudo e ia à caça, adormecia ouvindo aquela voz cadenciosa que ia contando aos presentes, as peripécias de alguma caçada que ele tinha feito.
Acompanhou-me a muitos lugares de África, Quando alguma vez fui caçar para as varias companhias com quem caçei, uma das exigencias que eu fazia, era que Fombe sempre seria o meu pisteiro e o FELIX o meu chofer.
Co m estes dois eu podia ir ao fim do mundo, podia caçar desde os grandes elefantes até aos dik-diks mais pequenos.
Total para mim, FOMBE foi o homem que me formou, que me criou, que me cuidou, uma pessoa a quem tive um carinho muito especial.
Quando deixei Angola por causa da Guerra Civil, Fombe já estava muito velho para levá-lo para o Sudâo; eu quiz levá-o para Portugal, onde em Mangualde tenho umas terras e uma casa onde ele podia viver com a sua familia, mas negou-se completamente. Tinha três mulheres o "desgraçado", e uma bem jovem. Durante uns dois anos recebi alguma carta dele em Madrid que era enviada da Muanza, por uma pessoa que tinha lá uma loja, depois deixei de saber dele, e mais tarde soube que tinha falecido.
Para mim foi uma dôr tâo grande, igual à que tive quando faleceu o meu pai. Porque Fombe nâo somente foi o meu "messire", foi tambem o meu PAI africano.
Sempre digo e penso, que algum dia nos encontraremos, em outro plano, onde continuaremos com as nossas "caçadas".

Vctor "Hunter"

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 4

Os nossos clientes que chegavam dos Estados Unidos, ao começarem a sua viagem na America, tinham que sofrer uma boa dose de tempo dentro dos aviôes. Primeiro do lugar donde vinham a Nova York, depois a Londres voando pela South Africa Airways, ou a Lisboa, para enlaçarem com qualquer vôo da TAP que fosse até Luanda. Chegar a Luanda e apanhar outro aviâo da DTA até Sá da Bandeira. Eram horas a fio para chegar até a essa cidade onde tínhamos a nossa base de operaçôes.
O Grande Hotel da Huila, era o melhor hotel da cidade e, onde os alojávamos geralmente durante um dia completo para fazê-los descansar e adaptar ao clima, depois de tâo longos vôos para poder chegar até a nós.
Tentávamos dar-lhes um tour pela cidade, que era uma cidade pequena, situada num planalto; Leválos de compras, aos mercados indígenas, onde podian adequirir madeira talhada, coisas de barro feitas pelos índigenas locais, e um sem número de artefactos.
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(na foto, uma boa amiga Mary Hoffman de Texas, comprando coisas para levar para os USA).
Sempre levávamos os clientes ao Miradoiro, donde se podia ver a muitos kilómetros de distância, e adivinhar o deserto do Namibe, numa diferença de altitude de 1.800 metros.
Havia um lugar em especial que se chamava a Tunda Vala, que era de uma beleza agreste impresionante.
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Lá ao longe na parte desertica do Namibe, tínhamos uma acampamento, que era a Espinheira, (foto Espinheira), onde alguns dos nossos clientes iriam durante uma semana a caçar os animais típicos do deserto que eram os Grandes Kudos, os Orixes, havia uma quantidade enorme de Leopardos, as Cabras de Leque ou Springbucks, as Zebras de Montaña e tambem as famosas Impalas de Cara Preta; havia uns Elands de impresionante tamanho, na parte mais encostada à serra, mas o que verdadeiramente atraia os clientes, era o rei das caçadas do deserto, os Orixes, que durante os meses de seca, deambulavam nas margens do Rio Curoca que fazia fronteira com o Parque Nacional do Iona.
O primeiro acampamento que tivemos nesse lugar, era o acampamento da GRUTA. Era uma gruta formada por uns monolitos de impresionante tamanho dentro dos quais, com um pouco de habilidade se construiu uma sala de jantar, com um bar, um quarto e, depois fora, umas casitas para alojar os clientes com toda a comodidade.
Como lhes disse atrás nâo foi facil, planear e executar todas estas operaçôes, mas quando um tem 30 anos e vontade de fazer as coisas tudo era possível, e por cima nos saía tudo bem. Ah! os fantásticos 30 anos, cheios de força e de uma vitalidade tâo impresionante, que nos creíamos indestructíveis, e pensávamos que nâo havia nada que nâo pudéssemos fazer.
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Para baixar do planalto da Huila, até à parte desertica , já pertencente ao Distrito de Moçamedes (hoje Namibe) tíhamos que passar pela Serra da Leba, que até hoje é uma das estradas mais impressionantes que eu vi e digna de estar em qualquer compêndio de engenharia.

Victor "Hunter"

sábado, setembro 30, 2006

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 3

Nesse ano, nosso primeiro ano de actividade cinegética nas TERRAS DO FIM DO MUNDO, assim se chamam até hoje as terras do Mucusso,(que pertenceram ao Capitâo Cabral, já algum dia lhes contarei do nosso parentesco), que compreendem a coutada que está demarcada por quatro grandes rios.
A Oeste, que era a nossa área de acçâo, pelo rio Cuito, que vem do Norte da regiâo do Cuito Canaval, ao Sul pelo rio Cubango e, que faz parte da fronteira do Caprivi Strip, mais conhecido por Okavango, que mais tarde ao juntar-se com o Rio Cuando vâo formar dentro da Botswana uma das maiores zonas húmidas do mundo, onde milhares de animais vivem hoje em paz sem que os matem.
A Este era limitada pelo Cuando como me referi já e ao Norte, pelo Rio Luiana, que devidia a coutada do Mucusso da coutada chamada Luiana.
No "nosso" Rio Cuito, nesses meses terminamos dois acampamentos mais para poder começar os nossos safaris com três bons acampamentos.
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Este era o acampamento do Sacaxai, muito do estilo do primeiro que fizemos, somente que desta vez este foi construido em uma zona plana.
Do outro lado do Rio Cuito, mesmo em frente ao acampamento, havia uma base militar de cavalaria, em que havia um bom campo de aviaçâo, todo feito em cimento, e que o comandante mos deixava usar para aterramos com o nosso aviâo, um velho Dove de Havilland de doze passageiros que usávamos para transportar os nossos clientes de Sá da Bandeira até à coutada e vice versa.
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Escrever isto, parece muito facil, mas para mim, ter organizado, os dias em que tinha que chegar o aviâo, coordinar tudo num calendário, para que chegassem uns e regressassem outros que tinham acabado o seu safari, no pricípio foi uma dor de cabeça.
Em Sá da Bandeira, tínhamos que pesar cada peça de bagagem para nâo passar-nos do peso permitido pois tínhamos que abastecer-nos de gasolina em um ponto intermédio, que era a Vila de Serpa Pinto, para ter gasolina para ir ao acampamento e regressar, a Sá da Bandeira. A maioria das vezes o aviâo e o piloto pernoitava no acampamento para seguir pela manhâ até à base. Tivémos que contar com isso, construindo uma "casita" mais para os imprevistos.
O velho CR-LKU (Charlie,Romeu - Lima, Kilo, Uniforme) portou-se bem durante muito tempo, até que um dia...já lhes contarei mais adeante.
Todos os clientes que tívemos no primeiro mês de safari, eram importantes para nós mas entre eles havia dois personagens que eu tinha feito enfazis aos meus companheiros que tinham que ser atendidos de uma maneira VIP, sem descuidar os outros certamente.
Um era o Guy Roderick e o seu filho Scott de 9 anos e o outro era o Robert Eastman, que eu já conhecia de Moçambique.
O Guy R. era um dos maiores acionistas de MacDonalds (nham nham) e o outro somente caçava com arco e flexa e é dono de uma cadeia de Super-Mercados " Quick Save" aparte de ser dono da companhia que vende e fabrica arcos e flechas e, todos os artigos de caça que se chama " Hunter's Tracker". Se tudo corresse bem, esses senhores ajudariam que no ano seguinte estivessemos cheios a nâo mais caber de clientes. Essa foi a promessa que me tinham feito.
Cada vez que chegava o nosso aviâo, era como uma festa para os nossos queridos e militares que estavam destinados naquele aquartelamento. Vinham sempre visitar-nos, mas com um tacto formidável. Sempre chamavam por rádio para ver se nâo incomodavam. Grandes rapazes, e que grandes eram quando falavam de como estavam a defender aquilo que pensávamos que era nosso.
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Daqui vai sempre a minha homenagem para eles. Eu levava-lhes muita veszes os melhores bocados de carne que caçava, de Tucas, de Kudos, de Gondongas e eles sempre me mandavam alguns garrafôes de vinho, pois tinham um surtido imenso nas suas despensas.
Nos dias que chegavam clientes até nos ajudavam a passar o batelâo que com a corrente que às vezes era de 8 a 9 nós, era bastante pesado.
Quem sabe onde estarâo agora tâo bravos rapazes?
Alguns certamente já sâo avôs e devem-se lembrar dos bosn tempos passados naqueles lugares, porque lá nâo havia nem um terrorista naquelas terras. Se tinham acabado. (isto tambem dá para uma história que lhes podia contar, mas a mim somente me diverte escrever sobre caça).

Victor "Hunter"

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 2

Ainda que o nosso Grupo Moçambicano, nâo fosse composto somente por "moçambicanos",... era um grupo divertido.
Tínhamos o Amilcar Jorge, o mais sério de todos, (que aparte de caçar, era o que levava a contabilidade), que era de Vila Pery que, comigo era o sócio principal, depois vinha o seu irmâo Noel Jorge o mais louco de todos, tambem de Vila Pery.
Seguia o Javier Alonzo, que era um espanhol a quem eu dei trabalho uns anos em Moçambique, de ajudante de caçador e que mais tarde veio a caçar em Angola na famosa coutada do Luiana e que quando lhe fiz a proposta para ingressar ao grupo, nâo demorou nem 5 segundos a dizer qie sim.
O outro que fazia parte do grupo era o António Guerreiro, um rapaz mulato, o mais velho de todos, um bom amigo e, uma das chaves principais na abertura de picadas, pelo conhecimento que tinha daquelas terras, pois tinha nascido nas margens do Okavango em frente ao Rundo (Namibia). Para ele tudo estava bem, tinha uma calma que às vezes me punha nervoso, porque parecia que nada lhe importava, mas isso sim, sempre fazia as coisas com a sua calma, e bem feitas.
Finalmente vinha eu, o sonhador, o que decidia como fazer as coisas, como conseguir o dinheiro e os clientes. O visionário, o que nâo me importava encher-me de dívidas, para que os meus clientes contassem com um aviâo, com uns jeeps à altura e com uns acampamentos que nâo ficassem a dever nada aos melhores de África daqueles tempos. O que queria que os carros estivessem equipados com radios transmissores, para que estivéssemos todos em contacto com um rádio que estava no nosso escritório em Sá da Bandeira, e que tinha "uma guarda de 24 horas".
Este era o Grupo Moçambicano Safaris Limitada.
Cada um tínhamos um nome. Eu era o Zebra-1 , Amilcar o Zebra -2 e assim sucessivamente.
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Trabalhávamos para construir os acampamentos, abrir picadas, contruímos até um batelâo para poder atravessar o Rio Cuito. Deitávamo-nos à noite, cansados, mas contentes de ter feito alguma coisa nova nesse dia por nós e pelo turismo daquela terra.
Victor "Hunter"
P.S.- Tínhamos prometido todos deixar os bigodes até que acabássemos a primeira época de caça.
da Esquerda à Direita: Victor Cabral "Hunter", Javier Alonzo, Antonio Guerreiro, Noel Jorge e Amilcar Jorge.

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS 1

(MAIO-1972) QUANTAS ILUSÕES...E QUANTAS DECEPÇÔES
Em 1972, depois dos "terroristas" terem queimado o meu acampamento base da Mazamba, (Moçambique), transferi todo o meu equipamento e pessoal indígena para Angola.
Cheguei com a ilusâo de começar uma vida nova, pois lá no MUCUSSO, na foz do Rio Cuito com o Cubango, ou seja o OKAVANGO, construí este acampamento, que era uma maravilha pela sua posiçâo. Era um paraiso esse lugar, Tranquilidade, muitos animais, uma pista de aterragem, e do outro lado do rio, uns rapazes militares portugueses que nos davam a sua amizade. Eram uns rapazes orgulhosos da farda que levavam vestida. E nós uns empreendedores, que queríamos fazer "as coisas bem".
Construimos ao longo desse rio, acampamentos que eram um sonho, para aquele tempo, que os angolanos nunca tinham visto. Aí começou uma companhia que se chamava, Grupo Moçambicano Safaris Ltda.
Um dia tudo terminou....e as nossas ilusôes foram por água abaixo...

Este era o Acampamento do Dirico, quando o tínhamos terminado.
O trabalho que nos deu fazer isso em escadas. Tinha 4 niveis.
(das minhas memórias).
Victor "Hunter"

sábado, maio 20, 2006

Zebra voadora

Amigos: há muito que tinha perdido fotos da minha avionete. Com esta percorri meio mundo. Esta foto foi tirada por uma pessoa, e somente agora a pude encontrar,. Foi uma manhâ de Abril em Reykjavik- Gronelandia, quando ia para África.
Fiz muitos saltos: Miami, Hallifax, Goose Bay, Julianabhab na Icelandia, depois Reykjavik, Norte da Escocia, Bordeus, Madrid, Porto, Viseu, Barcelona, Palermo (Sicilia) depois Iraklion em Creta, Cairo, Luxor, Assuâo, Khartoum, Juba, Nairobi.

Foi uma viagem fantástica para fazer uma só vez na vida.

Nâo me digam que nâo é bonita a minha velha avionete?

Um abraço

Victor "Hunter"

Se querem ver o registo e saber como é: podem entrar a : www.iPilot.com e aí en search pôem o # N4656P e veem como é que motores tem e o resgisto dela. Uma maravilha de máquina.

domingo, março 26, 2006

Viagem de Saudade, ao Mato de Moçambique

Uma madrugada de Agosto,
A um jeep eu me subi,
A névoa estava densa,
Bastante frio senti.
Sâo os meses frios do Sul,
Mas eu ia preparado,
Levava uma boa samarra
Nào queria estar constipado.

Ia feliz e animado,Porque
nâo há ninguem que nâo fique,
Deslumbrado e extasiado
Nas terras de Moçambique.

Sai pela estrada da Manga
Em direcçâo ao Dondo
Levava de ajudante
O cozinheiro Matondo.

Íamos os dois visitar
Terras que antes caçei
Agora nada de armas
Só fotos, eu tirarei.

Já matei muitas espécies,
Há trinta anos passados,
Agora nada de tiros,
Os animais já sâo raros.

Passámos pelo Dondo,
P’ra a estrada de Inhaminga,
Tínhamos que ter cuidado,
Porque havia muita “minga”.

No desvio da Muanza,
Para a esquerda torçemos,
Direitos para Mazamba,
Lugar onde antes vivemos.

Pareceu-me ver um leopardo,
Que ia lá baixo a correr,
É o primeiro animal,
Que ancançei eu a ver.

Segui baixando p’ro vale,
Ao longe via a famosa,
Destacando no horizonte,
A Serra da Gorongosa.

Que lindo vale era aquele
Que saudades, que beleza
Os tandos estavam belos
Assim era a natureza.

Parámos perto de um rio
E vi que “banja” havia,
Era o chefe Mazamba
Que a sua gente reunia.

Veio-me o chefe saudar
Tinha os olhos cansados
Perguntou quem era eu
Que fazia p’ra aqueles lados.

Vivi aqui muitos anos,
Num acampamento que tive
Um pouco acima do rio
Queria saber quem lá vive?

O homem olhou p’ra mim
Admirado e sorrindo
Com os braços abertos
Victor Cabral sê benvindo

Estava feliz o chefe,
Porque me reconheceu,
Chegaram-me as lágrimas aos olhos,
Oh! Que saudades Deus meu.

Aqui podes acampar,
Disse-me o chefe contente,
Vais a ver que ainda hoje
Vai vir alguem da tua gente.

Chefe Mazamba obrigado
Pela tua hospitalidade
Vou estar aqui alguns dias
Para matar a saudade.

Fizemos um acampamento
Numa linda clareira
O chefe mandou por lenha
Para fazer a fogueira.

Olhava p’ras labaredas
Que saiam nâo sei donde
Pensei no velho pisteiro
O meu “baba”, que foi Fombe.

Estou certo que o seu espirito,
Andava por aí a rondar,
Contente que eu tinha vindo
Novamente ao seu lugar.

Elevei uma oraçâo
Numa respeitosa preçe
Quero que me guies bem,
Manguana machibésse.

Quero ir ver os búfalos
Se nâo é grande chatisse
Eu lembro-me que lhes gostava
Andar perto ao Inhanfisse.

Nhati – assim os chamam
E que fortes animais sâo
Quero ir ao Inhangdué,
P’ra ver algum leâo.

Aí eram terras do velho,
Araujo se chamava,
Diz que tinha sangue azul
É o que a gente murmurava.

Dormi tâo bem essa noite,
Um espirito me embalava,
Com o som dos batuqes,
Parecia que flutuava.

O cozinheiro Matondo,
Trouxe-me à cama um café,
Continuava aquel hábito,
Antes de por-me de pé.

Um matabicho bem bom,
Ao jeep entâo nos subimos,
Fomos direitinho ao tando,
E alguns animais vimos.

Eram as zebras vistosas,
Sengos, javalis corriam,
Ao longe vi umas tucas,
Bois-cavalos que fugiam.

Que linda que é a minha África,
Com engraçados esquilos,
Com aves e plantas raras,
E tambem com crocodilos.

Ouvi cantar as “kués”,
Os patos “surires” silvavam,
Os trinidos das goembas,
Eram sons que me gostavam.

Vi um elefante comer,
Numa árvore de mafura,
Tambem comi daquele fruto,
Um gosto, que ainda dura.

Alguem disse alguma vez,
Que quem ao mato vier,
De certeza voltará,
Como ao amor de uma mulher.

Continuámos p’ra frente,
Vimos gazelas e impalas,
Cabritos, e inhacosos,
E tambem vi pala-palas.

Que bom ver que ainda existem,
Especies de animais,
Para poder procrear,
E que nasçam muitos mais.

Numa lagôa bonita,
A que os locais chamam Lunga,
Parei para descansar,
Estava a água profunda.

Tantas vezes que aqui vim,
Quando safaris guiava,
Aproveitava p’ra comer,
Com turistas que levava.

Estava cheia de nenúfares,
Uma tâo delicada flor,
De cores brancas e azuis,
Brilhantes de explendor.

Ouvi “cantar” um hipopotamo,
Um pouco mais adeante,
Vi mesopos e tilápias,
E tambem um elefante.

Mais adeante vi,
Deu-me um salto o coraçâo,
Com uma juba negra ao vento,
Um imponente leâo.

Continuei o caminho,
Ao Kanga Nthole fui dar,
Estava abandonado,
Quase me pus a chorar.

Naquele lugar tâo bonito,
Em que o tempo parou,
Amores um dia lá tive,
Que a memoria nâo apagou.

Se algum dias lês os versos,
Desta pequena história,
Tu casas-te, eu tambem,
Mas nâo me sais da memória.

Nâo te preocupes senhora,
Estarei sempre aos teus pés,
Preferiria morrer agora,
Do que revelar quem tu és.

Se escrevi isto aqui,
Nâo foi por presunçâo,
Foi para que tu soubesses:
Te tenho no coraçâo.

Regressei já pela tarde,
Ao lugar onde acampei,
Ia ter uma surpresa,
À noite, quando cheguei.

Estava um velho andrajoso,
Perto do fogo sentado,
Levantou-se e dirigiu-se,
Devar para meu lado.

“Patrâo já nâo me conheçe?
Sou Joâo o seu guia,
Que o levava ao Endone
A qualquer hora do dia.”

Nâo podia acreditar,
Que aquele homem tâo débil,
Fosse o rapaz que noutro tempo,
Forte, sagaz e ágil.

Fomos juntos à Macossa,
Ao Catulene e Zambeze,
Chegamos à Mutarara,
À Zambézia e, até a Tete.

O meu Deus, muito obrigado,
Por dares-me esta oportunidade,
De ver alguem que outrora,
Foi amigo de verdade.

Matondo óh cozinheiro,
Dá comida ao meu amigo,
Da-lhe parte da minha roupa,
E da-lhe também um abrigo.

Joâo quero que tu fiques,
Enquanto aqui estiver eu,
Vamos fazer uma viagem,
Aos tandos de Marromeu.

Foi assim que vi o mato,
Do Moçambique, e meus amores.
Foi sonho realizado,
Até logo meus senhores.

Victor Cabral “Hunter”
Ano 2006

Menina negra

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terça-feira, janeiro 17, 2006

Visita à Cidade da Beira , Moçambique

Visita à Beira em verso (mais ou menos rimada):

Num frio inverno em Janeiro,
Sentado em frente à lareira
Ia pondo tronco a tronco
P’ra atiçar a fogueira.

Pensando, pensando estava.
“Que faço aqui neste frio?
Seria muito melhor
Que eu estivesse no Rio.”

“Sabem de que rio falo?
Nem lhes passa pela ideia.
Falo do rio Zambeze
Um pouco a Norte da Beira.

Agora marco a passagem
Embarco na terça-feira
Saio de Lisboa às nove
E chego amanhã à Beira.

Aqui estou novamente
Num lugar de muito sol
Na terra do Estoril
E tambem a do Farol.

Ouvi uma voz velhinha,
Que me dizia animado
“Bem-vindo meu caro amigo
Aqui estou abandonado”

Era o velho Macuti!
Famoso rebocador
Chegaram-me as lágrimas aos olhos
Por vê-lo com tanta dor.

Ontem andavas na barra,
Hoje serves p’ra dar sombra
Continua velho amigo
Que isso muito te honra.

Até logo amigo meu
Nunca te esquecerei,
Mas certo podes estar
Algum dia, voltarei.




Caminhei um pouco mais
Por entre casuarinas
Até ao Club Náutico
Onde via umas, meninas.

Era a nova geração,
Que eu já nâo conhecia
Falavam de novas coisas
De um pais que revivia

“ Estão a pintar o liceu”,
Dizia uma contente
Se fazem as coisas bem
Vai vir um monte de gente”.

Gente nova e gente velha
Gente conhecida e famosa
Virão aqui visitar
O Parque da Gorongosa.”

“Olha p’ra Praça da Índia
Que bonita! Que emoção!
Arranjaram os jardins
E tambem o camelhâo.”

Os velhos canhões estavam
Ferrugentos e despontados
Saudei-os com carinho
Por vê-los abandonados.

Continuei passeando
Agora pela marginal
Cheguei até ao Oceana
E vi que nâo estava mal.

Nâo gostou daquele anúncio
De uma bebida famosa,
Que se via na parede
Da garrafa da gasosa.

Se nâo pomos atenção,
A pintores tâo “elegantes”
Vão-nos pintar a garrafa
Na barriga, aos elefantes.

Em direcção aos Pinheiros
Continuei a andar
Passei pelo Grande Hotel
Deu-me “ganas” de chorar.


Lúgubre, sujo em ruínas
Já nâo tinha aquele porte,
Tão belo que tinha sido.
Agora cheirava a morte.

Mais miséria nâo quis ver
Corri daí apressado,
Fui até à Mexicana
Onde comi um gelado.

Continuei o passeio
O São Jorge queria ver
O ultimo filme que lá vi,
“O Direito de Nascer”

Aí estava o cinema
Com aquele porte altaneiro
Quantas matinés eu vi...
Fui amigo do porteiro.

Baixando pela avenida
Em direcção ao centro
Passei pela Catedral
Fui visita-la por dentro.

Estava toda bonita
Com a pintura cinzenta
Agradeci a Jesus
Com um pouquinho de água benta.

Ainda falta pintar
E tapar os orifícios
Da casa que está ao lado
Escola de Arte e Ofícios.

Havia uma árvore grande.
Grande árvore que sombra faça.
Sobre a que foi grande escola
A Eduardo Vilaça

Estava bem pintadinha
A dizer-me: “aqui estou”
Uma tâo digna escola
Que a tantos ensinou.

As árvores da avenida
Formavam túnel profundo
Que me davam sombra fresca
A melhor de todo o mundo.


Caminhando devagar
A Câmara Municipal eu vi
Faltava-me qualquer coisa
Mas nâo era o Capri...

Estava lá o café,
Os Correios e o mercado
Faltava-me qualquer coisa
Parecia-me abandonado.

Foi então que eu notei
E vi como o coração dói,
O que tinha desaparecido,
Foi o antigo Savoy.

Queimou-se todo o hotel
Que pena, que se acabou
Um “icone” da nossa Beira
Em cinzas se transformou.

Tantas e tantas peripécias,
Que “ele” tinha na memória,
Amores, raivas e ódios
Que fazem parte da história.

Cerca dos anos vinte,
Que ele foi inaugurado,
Terminaram os seus dias,
Em Janeiro foi queimado.

A Muralha estava à espera
Que eu a fosse visitar,
Sentei-me nas velhas pedras
Para poder descansar.

Olhei p’ró Beira Terrace
E lembrei-me do passado
Com a minha namorada,
Naquele lugar tinha estado.

Quanto beijos escondidos,
Tantos apertos excitantes
Nâo eram amores de agora
Eram os amores de antes.


Lembrei-me das namoradas,
Natália, Paula e Mizé,
Pensei tambem na Lucília
E na Maria da Fé.

Tantos amores que lá tive
E tanta recordação,
Mas sempre me apaixonava
De verdade e coração.


A Lua já vai bem alta
Ao por do sol me inclino
Vou dormir ao Embaixador
Em frente ao Maquinino.

Depois de um banho fresco
Vesti-me com uns calções,
Fui ver o china Wong
E comer uns camarões.

Que delícia e que prazer
Outra vez neste lugar
Com uma boa Manica
E com um tâo bom jantar.

Lembrei-me de uma pessoa
E se aqui estivesse?
Vou ver se a posso encontrar
“Manguana machibesse”.

Era uma mulata divina.
Chamava-se Ana, a danada
Trazia-me mesmo mortinho
Assim era,... Apaixonada.

“Ó tempo volta p’ra trás,
Dá-me tudo o que perdi”
Deixa-me ver as mulheres,
Aquelas com que vivi.



De manhã de manhãzinha
Dirigi-me ao Capri
Pedi um café gelado
Que com prazer eu bebi.

Sabia-me igual que antes
E pedi outro num ai
Só me faltava o ouvir
Aquele homem..., “já lá vai”.

Caminhei mais para baixo
O City Stores lá estava,
Vendia as mesmas coisas
Igual quando eu lhes comprava.


Algumas coisas mudaram
Nesta Beira já velhinha,
Faltava a Casa Smarta
E Tambem a do Palhinha.

O Banco de Moçambique
Estava no mesmo lugar
Sóbrio, cinzento e triste
Sem dinheiro p’ra emprestar.

Continuei caminhando
Num clima sem igual
Passei por vários edifícios
E fui ver o Nacional.

O cinema estava lá
Faltava a gente de antes
Victor Gomes, e a mulher
Creio que foram p’r Abrantes.

Gaivota que voas alta
Mostra-me agora o caminho
Quero atravessar a Ponte
Ir até ao Maquinino.

Olha o velho Moulin Rouge
Aquele cabaret famoso
A gente que agora está
Tem um ar de perigoso

Melhor nem entro aí
Nâo vão tirar do gatilho,
Já nâo sâo os belos tempos
Da Mercedes del Castillo

Bailarina flamenca
Que tanto nos deleitava
Com o seu sapateado
As castanholas tocavam.

Ao olhar lá para dentro
Vi pretas da bela vida,
E com maningue tristeza,
Muitas delas têm SIDA.

Daí passei a Estação
Para ver como estava,
Perguntei se eu podia
Ir em comboio à Munhava.

Não patrão. Tem que apanhar
O machismo que sai
Aqui em frente à estação.
Com esse sim chegar vai.

Agradeci ao rapaz:
Obrigado “xamuaranga”
Quero saber quanto custa
Bilhete até à Manga.

Lá fui eu no machibombo
P’ra Manga a ver o que via
Tinha que ir à Igreja
P’ra aproveitar o dia.

Estava o templo sem pintar
Abaixo a casa da Céu
Tudo estava muito feio
Que passa aqui Oh Deus meu?

Perguntei a um “xamuar”
Que respondeu com um sotaque
“Xi patrão se queros ir
Eu mostrar o Tic Tac”.

Isto nâo me gostou nada
A Manga estava lixada
Nem Tic Tac nem Brizido
Pobre Manga está acabada.

Regressei de tarde à Beira
Confesso um pouco “Tristão”
E fui beber um whisky
Ao bar, com o Chico Brandão.

Falámos de coisas velhas
De gente que já nâo está
O pai dele, do Araújo,
Do Palhinha e do Hingá.

Lembras-te do Jardim?
Da Gillette, e do Salema?
Do Dimitri e do Carvalho
Da Dona Alda e da Lena.

Eram como velhos fantasmas
Que ante nós desfilavam
Trazendo-nos recordações
Que nunca nos abandonavam

Talvez fosse pelos whisky
Bebidos naquele lugar
Chico amigo terminamos
É hora de ir deitar.

Amanhã continuamos
E disso podes estar certo
Mal eu regresse da praia
Continuamos o “concerto”

Escrevendo uns “meios versos”,
Já me alarguei um montão,
Amo muito esta cidade
Cheguei à conclusão.

Regressei no avião
Adeus oh terra adorada
De todas as que conheço
Tu sim és a minha amada.

Uma lágrima correu no rosto
Deste velho caçador
Por ter que abandonar
As terras do seu amor.

Victor “Hunter”
Mexico – 2006