terça-feira, setembro 25, 2007

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS - SUDÂO (6)

Estávamos do final da nossa estadía no acampamento de James Diko. Tínhamos que preparar-nos para fazer uma viagem até ao acampamento de Tonj, que ficava a umas 10 horas de viagem. Teríamos que passar pela cidade de Wau, apresentar-nos no Departamento de Caça, pois era uma obrigação, por lei, para que as autoridades soubessem que estaríamos a caçar na área da sua jurisdição, para poder-mos ir caçar os Mrs. Grey's Lechwees nesses pântanos, que era um dos troféus que lhe fazia mais ilusâo ter.
Pensámos em ir passar a nossa última tarde da Floresta Equatorial, sentados sobre as pedras que nos serviam de atalaia, para ver se saia alguma sitatunga. O Pitt tinha muita sorte, mas com as sitatungas parecia que se lhe "complicava a coisa."
Saímos às três da tarde e lá nos sentámos nas pedras, esperando que a tal sitatunga saísse. Eu usava uns binóculos, que até hoje conservo, uns Leitz, 8 x 35 e até hoje nâo encontrei coisa melhor para ver os animais em África. Passava as horas vendo dentro dos papiros, para ver se alguma coisa se movia. Vimos as duas fêmeas do costume e a sitatunga pequena, mas de macho nada.
Já eram as 4.30 da tarde, quando dentro dos papiros me pareceu ver que havia um dos papiros que era preto, e não amarelo ou verde como costumam ser. Apontei bem os binóculos e vi que se tinha movido uma coisa de nada. Ajustei bem as lentes e vi que era um corno de uma sitatunga que se encontrava totalmente submergida na água dentro dos papiros. Lhe disse a Pitt: "Vês aquele papiro amarelo que esta aqui em frente?" Pit via o papiro amarelo, até contou a partir de uns mais altos que aí se encontravam. "Pitt, se apontas com o teu óculo da arma, cerca de 40 polegadas, mais ou menos um metro, para a direita, há uma coisa negra que está metida na água. Esse é um corno da sitatunga." - Ele nâo podia ver, porque já eram quase as 5 da tarde e a luz estava a baixar rapidamente. Tínhamos um problema. O Pitt durante o dia via muito bem, mas com os seus óculos trifocais, era difícil para ele ver dentro dos papiros.
De repente "acendeu-se-me a lâmpada" e vi que aí ao lado das pedras havia uma pequena árvore que fazia um V muito fechado, quase juntando-se as duas ramas. Agarrei a espingarda de Pitt e disse-lhe que provavelmente a ìa arranhar um pouco. Meti e espingarda no meio da forquilha da árvore e puxei para baixo até que ficasse à altura do meu ombro e apontei para o lugar onde estava a sitatunga. As sitatungas quando estão dentro de água e dentro dos papiros nem se movem, porque se sentem protegidas e essa era um velho animal que "as devia saber todas"
Apontei bem e calculando o corpo da sitatunga, pus a rectícula do óculo em no que eu pensava que seria o coração. Disse-lhe a Pitt, vê agora onde está. O meu amigo disse-me com muita desesperação que nâo via nada. E a luz que se nos ia.
Eu nâo queria que ele se fosse sem aquela sitatunga, e disse-lhe deixa-me ver bem outra vez; não se tinha movido, e então disse-lhe, agarra a arma e sem mover nada, aperta o gatilho, encosta somente o ombro, a ver o que passa. Pitt agarrou a arma e disparou, sem mover nem um milímetro que fosse o cano que eu estava observando. Senti o tamboraço e eu estava seguro que lhe tinha dado.
A luz quase se nos foi totalmente, Tivemos que ir ao Toyota buscar umas lanternas, e o John e os outros ajudantes meteram-se à água e sacaram de lá a sitatunga que Pitt tanto queria.
Esta era uma beleza de sitatunga e tínha-se acabado a má sorte com aquele animal.
Fomos para o acampamento, onde celebrámos com um bom whisky a "aventura" da sitatunga. Sacamos as fotos respectivas, que nâo sairam muito bem por falta de luz, e nâo tínhamos flash, mas aqui deixo a foto da tal sitatunga que se nos dificultou tanto. Ficaram um pouco escuras e fomos para o acampamento, celebrar com um bom whisky a caçada da sitatunga.
No dia seguinte saímos de viagem para o acampamento de Tonj.
Victor "Hunter"

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