terça-feira, setembro 25, 2007

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS – MOÇAMBIQUE 6

...Nesse ano eu tinha estado em Paris, a tentar promover mais safaris com o nosso agente, o Conde de la Rochefaucaux, porque geralmente os franceses iam caçar na África Francófona, ou sejam as colonias de França, como a Costa de Marfim, Camarâo, Républica Centro Africana, Tchad, que era onde havia mais animais para caçar.
Falei com alguns clientes que ele me apresentou e nesse ano recebemos 6 clientes franceses, todo um record, porque era muito raro que viessem a Moçambique.
Moçambique era um país para fazer safaris de “general bag”, um safari com as espécies mais representativas, mas nâo havia, à parte das Inhalas ou Nyalas, um animal especial que pudéssemos oferecer, como por exemplo, os grandes elefantes da República Centro Africana, os Elands Gigantes ou os Bongos.
Faziamos safaris, divertidos, quase sempre atirávamos do carro e era um safari cómodo, para gente que gostasse de dar muitos tiros, e que gostasse de caminhar pouco, pelo menos nas áreas que eu caçava.
Nào se faziam safaris especializados, mas a gente gostava e, graças a Deus estávamos sempre cheios. Eu fazia uma média de 160 dias de safaris todos os anos, e às vezes mais.
O Conde de la Rochefaucaux, mandou-me uma carta, que dizia que um primo seu. O Duque de Estissac, viria a caçar comigo em Agosto, e que o que queria era matar búfalos, aparte de outras espécies e, que “nunca, por razâo nenhuma, dobrasse um tiro ao Sr. Duque”, pois o homem era um caçador que queria ter a certeza que era ele que matava os animais.


(Foto do Duque com um bom Kudo)

Eu nunca fui muito de dobrar tiros aos meus clientes, era raro, somente quando mo pediam, às vezes com os elefantes, ou com algum leâo “teimoso e de mau humor”.
Os búfalos em Moçambique, em todos os lugares onde os caçávamos, encontrávamos grandes manadas, ou manadas de razoàvel tamanho. Muitas vezes aproximávamo-nos com o carro e se o cliente queria, atirava de cima do jeep, ou a maioria das vezes, eu fazia com que eles se baixassem e fazíamos uma aproximaçâo tentando atirar o mais perto possível do animal. Assim o tiro era mais efectivo e havia menos possibilidade de errar os pontos vitais, pois quase sempre o cliente atirava com calibres 416 a 458 e assim nâo havia caída do projéctil, que nestes calibres é bastante grande a distancias superiores aos 100 metros.
Para que o Sr. Duque de Estissac pudesse ver o que era uma verdadeira caçada aos búfalos, resolvi começar o safari no Catulene, onde nâo havia grandes manadas, mas sim manadas pequenas de uns 50 a 100 animais, mas que pelas condiçôes da área, eram mais difíceis de caçar.
Como estes búfalos eram obrigados a passar sede todo o dia, porque as margens do rio Pompué estavam habitadas nas duas margens por indígenas locais, os búfalos, a meu ver, andavam sempre sedentos, até altas horas da noite que era quando podiam vir a beber sem que os detectassem.
Uma manhâ, saímos ao longo do rio, para ver se encontrávamos algumas pégadas, e nâo demorou muito que víssemos o rasto de uma pequena manda, talvez uns 50 bufalos.
Começámos a segui-la e depois de caminhar perto de uma hora, vimos ao longe, entre a floresta aberta, a manada que ia caminhando devagar e comendo. Escolhemos o vento e começámos a aproximar-nos devagar.
Eu notei que havia alguns búfalos que estavam alerta, e o que fiz foi baixar-me e começar a arrastar-me o mais devagar possível para chegar o mais perto deles posível.
Lembro-me que estava um calor dos diabos e arrantando-nos no capim que havia no Catulene, que era um capim que nâo crescia mais de 50 cms, mas que tinha uma espécie de sementes pequenas que se nos metiam até nos olhos, o que era uma tortura.
Aqui quero fazer uma observaçâo. Cada vez que íamos caçar um animal como bufalos e elefantes, o Fombe, o meu pisteiro, secretário, ama e diria segundo pai, sempre levava uma das minhas armas, que usava com bastante precisâo, em caso de que eu falhasse ou me passasse alguma coisa assim parecida. Fombe era esquerdo, canhoto até mais nâo poder, e como eu sou direito, fazíamos uma equipe muito boa porque nos cobríamos um ao outro perfeitamente. Se ele fosse ao meu lado direito, nâo havia ângulo que nâo estivesse cuberto.
Mas continuando com a caçada do Sr. Duque de Estissac. Conseguimos chegar-nos até uns 70 metros donde estavam os búfalos. Cons os binóculos vi o que me pareceu melhor, ainda que nâo fosse nenhuma maravilha e disse-lhge ao Duque que lhe atirasse. Soou o tiro da 375 que ele usava e, vi que os búfalos arrancaram a correr. A mim pareceu-me que lhe tinha dado um tiro ligeiramente atrasado, mas logo veríamos.
Começámos a seguir a manada tendo o Fombe , o Sande e o Joâo, os “messires” a que eu de brincadeira lhe dizia, “engenheiros do mato”, feito uma linha recta para ver se víamos o rasto que tivesse sangue.
Encontrámos o rasto do nosso búfalo, e vimos que ele tinha abandonado a manada para dirigir-se a uma rio seco que eu sabia que existia mais adeante.
Para que nâo houvesse problemas pusemos o Senhor Duque no meio, entre Fombe e eu. Íamos a uma distância dele de uns 5 metros. Ele ia no rasto guiado pelo Sande e eu ao seu lado esquerdo e Fombe ao lado direito. Eu levava a minha 416 John Rigby e o fombe uma velha 375 Winchester. Chegou um momento que estávamos a caminhar numa floresta aberta mas com bastantes árvores o que era bastante incómodo para ver bem. Depois de caminhar um pouco mais, estava um “morro de muchen” bastante grande com alguma vegetaçâo, e Fombe avisou. Cuidado que pode estar atrás do morro.
Eu disse ao Senhor Duque que se preparasse porque aquele búfalo nos poderia carregar.
Mal acabava de dizer-lhe, ouvi o típico muuu curto do búfalo quando carga e, vi-o arrancar direito a nós, bom a nós nâo, ao Duque que ia no meio e no rasto do animal.
Vi o Senhor Duque levantar a arma e disparar, mas nada aconteceu, o búfalo continuou direito a ele como um comboio desenfreado.
Vi o Senho Duque desaparecer da minha visâo e eu atirei ao mesmo tempo que o Fombe. Parecia que lhe tinham posto uma parede na frente porque se encolheu e caiu a menos de 10 metros donde estávamos nós.
Os meu “messires” que nâo eram nada discretos, começaram a rir-se e a fazer troça do senhor Duque, porque segundo eles o aristocráta corria como coelho para por-se a salvo, nâo se importando que a corôa Ducal se lhe tivesse caído.

Tive que os pôr em paz, e fui com o Duque dizer-lhe que às vezes passava isso, que desculpasse ter que atirar eu, mas era um caso de força maior. Já caçaríamos outro que nâo se preocupasse.
Esteve vários dias, até que veio comigo e me disse: Desculpa pela pretensâo que eu tinha, mas compreendo que às vezes o guia tem que ajudar.
(foto do Duque com o segundo bufalo que matámos perto de uma povoaçâo do Catulena).
Eu fiz que era coisa sem importancia, que já caçaríamos outro e continuámos o Safari do Duque de Estissac, que caçou bastantes bons trofeus. Quando fomos ao elefante, disse-me: “ se vez que nâo cai, atira tu tambem”.
Nâo foi necessário, ele deu-lhe um bom tiro.
Victor “Hunter

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