A viagem para a província de Bahar-el-Gazzal, foi uma viagem de bastante cansaço porque a estrada de Yambio a Wau, que é a capital, estava em bastante mal estado e em varios quilómetros. o que nos obrigava a manter uma velocidade que não era constante e por isso demorámos mais do que esperávamos. Chegámos a Wau perto das três da tarde e dirigimo-nos ao Departamento de Caça, para registar-nos. onde o chefe do Departamento de Caça, nos convidou a tomar um chá, com a consequente conversação sobre o que passava em Juba donde ele era originário. Arrancámos uma meia hora depois em direcçâo ao acampamento, onde chegámos duas horas depois. Já era quase noite quando chegámos ao nosso destino.
Tonj está situado ao lado do rio do mesmo nome. Somente os que conhecem bem essa área, podem dizer qual é o rio, pois há uma quantidade enorme, pois há uma quantidade enorme de braços que formam os pântanos do Rio Bahar-el-Gazzal (rio das gazelas), do qual o Rio Tonj é um afluente.
Aí metidos dentro dos pântanos, há uma quantidade imensa de Nile Lechwees ou Mrs. Grey's Lechwees. Na parte seca, ou seja, fora dos pântanos abundam os Uganda kobs, os roans, e bastantes búfalos, assim como varios outros como os, rinocerontes brancos (agora extintos).
Nesse lugar é dos poucos lugares onde se pode ver ainda o pássaro tâo raro que é o Shoe Bill (bico de sapato), que está protegido e é um dos símbolos do Sul do Sudão.
Aí é uma região dominada pela tribo DINKA. Têm as suas palhotas do tempo seco, numas partes altas do pântano, para onde levam o seu gado. Quando as águas do rio começam a subir, durante a época das chuvas, eles retiram-se para terras mais altas a procurar melhores pastos.
É uma raça de guerreiros. Podia estar aqui horas a escrever sobre o que aprendi sobre esta tribú, para isso necessitaria de escrever um livro sobre eles.
Sâo pessoas que não querem saber nada da civilização. Não gostam de andar vestidos com roupas, nem árabes nem europeias. Às vezes são obrigados a fazê-lo para poder entrar em alguma povoação, onde árabes e autoridades não admitem que andem nus.
Como se Ve`o guerreiro da foto, eles usam uma espécie de faixa de contas bem apertadas à volta do estômago. Adoram dançar, e as danças deles sao muito parecidas às dos Massai do Kenia e Tanzânia. Dão saltos muito altos, e quanto mais altos melhores bailarinos os consideram entre eles. Era natural encontrar dinkas com mais de dois metros de altura. Têm um conhecimento sobre o gado, somente comparado com os Massai e os Himbas da Namibia. Estão tão dedicados à sua manada, que podem reconhecer um por um, todas as suas rezes, não importando a quantidade que ela tenha.
Quando um Dinka chega aos 10 anos, o pai oferece-lhe um boi, que é o começo da manada que ele formará e terá durante a sua vida. O pequeno fala com ele, trata-o com carinho , e considera-o uma parte importante da sua família. Enfeita-lhe os cornos e às vezes pinta com argila desenhos na pele do seu boi. Muitas vezes, durante a sua vida, quando tem que tomar alguma decisão importante, consulta o seu boi, que considera como um bom conselheiro e um bom "totem".
Este miúdo, preferiria morrer de fome, do que pensart em matar aquele boi, que para ele é sagrado. Poderá matar outros, pois vende e troca animais, mas nunca o boi que foi o princípio da sua vida.
As mulheres Dinkas são de uma beleza fisíca impressionante. A cara, não, pois têm o que para nós é um defeito genético, que é ter os dente superiores apontando para diante. Mas o corpo...parecem deusas a sair das águas do rio. Altas, e com um corpo escultural, com uma pele que somente as negras podem ter.. São de um negro tão negro, que parece negro azulado. Para comprar uma daquelas belezas , o "noivo" terá que pagar ao pai da donzela mais de 50 cabeças de gado, e às vezes mais, por isso os Dinkas casam-se tarde, pois necessitam muito tempo para juntar tantas cabeças. Já depois virão as filhas, para que ele possa receber dos "genros", as rezes que vão aumentar a sua manada.
Isto que escrevi sobre os Dinkas, é muito pouco, nas minhas memórias, dedico todo um capítulo, e outros aos Nuers e Shiluks que sâo também como os Dinkas tribos "nilóticas".
Na manhâ seguinte, Pitt e eu fomos dar uma volta para caçar alguma coisa para a despensa, e para dar de comer carne ao pessoal que há muito nâo a comia. Encontrámos um bom roan, que foi fazer parte dos troféus de Pitt.
Regressámos ao acampamento e descansámos da viagem de Yambio a Tonj, que nos tinha bastante cansados.
Às 5 da manhâ, estávamos já a tomar o nosso "matabicho", que quase sempre consistia em ovos, bacon e porridge (flocos de aveia), porque nesse dia teríamos que caminhar pelos pântanos para poder caçar os Nile Lechwees. O guia, um Dinka que quase sempre me acompanhava nesse lugar, disse-me que sabia onde andavam os Lechwees, e metemo-nos no Toyota, bordejando o pântano, até que o homem nos mandou parar e daí seguiríamos a pé. O John meu pisteiro, levava a arma do Pitt e eu somente os binóculos. Os outros pisteiros, levavam a nossa água, porque seria uma loucura tentar beber água daqueles pântanos.
Começámos a caminhar, primeiro sobre um colchão de plantas aquáticas. Conforme íamos avançando, o chão começava a tornar-se mais húmido, e o nosso calçado começou a molhar-se. Levávamos as calças dentro das peúgas porque no safari anterior eu tinha apanhado um montão de sanguessugas, e não queria que nos passasse igual. Seguimos assim mais de uma hora, até que tivemos que atravessar um braço mais profundo onde a água nos chegava até à cintura; passámos e começamos a sentir o terreno mais duro e mais seco. O sol queimava, e o vapor de água que saía do pântano, fazia-nos suar muitíssimo.
depois de talvez duas horas de caminho, vimos ao longe uma grande manada de Mrs. Grey's Lechwees. Eram mais de mil daqueles animais. Caminhámos em direcção à manada, dando um grande volta para poder estar contra o vento, para poder aproximar-nos aos animais sem ser vistos. Tratámos de aproveitar as manchas de vegetação que havia para poder camuflar-nos um pouco e chegar-lhes sem que nos vissem. Como era uma manada tão grande, pouco se movia, iam pastando na verde vegetação aquática. Chegou um momento que estaríamos a uns 180 metros da manada; ajoelhámo-nos e eu comecei a observar com os binóculos, qual era o troféu que eu queria para Pitt.
Havia um numero de machos que estavam separados da manada a um lado. Vi o que me gostou e indiquei-o a Pitt para que lhe apontasse com a lente da sua arma. Depois de tê-lo na mira, tomou um bom tempo respirando fundo e depois disparou. O Nile Lechwee, caiu sem sequer mover-se um metro do lugar onde estava. A manada começou a correr e via-a parar a um quilómetro de onde estávamos.
Tínhamos o troféu, que depois do Bongo e da Sitatunga, mais ilusão fez ao meu amigo Pitt.
Sacámos a pele e a cabeça, e John o meu pisteiro, fez com ela um embrulho que atou com umas plantas, pô-la à cabeça e seguimos para o Toyota e para o acampamento para dar-nos um bom banho.
À noite chamei pela rádio a Juba para que me mandassem o avião a Wau. O meu chauffer e pessoal seguiriam para Yambio, para James Diko, onde me esperariam uma semana que era quando começaria outro safari.
Pitt iria uns dias ao nosso acampamento de Kapoeta, que fica quase encostado à Etiópia, onde lá caçaria com o Carlos Fortunato, um Lesser Kudo e um Orix Beisa.
Assim terminou um maravilhoso safari do meu amigo Pitt Sanders, de Massillon, Ohio.
Em 5 dias chegariam os meus amigos Rosa e Federico Segura de Barcelona, (que a propósito, ainda ontem falei com eles pelo telefone), onde iríamos tentar caçar um par de bongos e um par de elefantes.
Victor "Hunter"
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