terça-feira, setembro 25, 2007

RETALHOS DAS MINHAS MEMÓRIAS - SUDÂO (4)

Os safaris continuavam de vento em poupa, somente com as dificuldades, em alguns atrazos da gasolina que às vezes demorava mais tempo do que o previsto, ou pelas chuvas, ou pelos soldados do Idi Amim, mas sem nunca ser uma coisa demasiado importante, porque ao fim sempre chegava o que tínhamos encarregado.
Eu continuava no acampamento da floresta, James Diko, e estava em contacto constante com a nossa base em Juba, via radio.
Pitt eu eu continuámos o nosso safari, tranquilamente até que um dia ao atravessar um rio que estava quase todo cuberto com plantas aquáticas, vimos duas sitatungas fêmeas e uma pequena.
Parámos e não vimos o macho. Caminhámos um pouco rio abaixo até que encontrámos uma floresta aberta e com umas pedras, onde nos sentámos, sem fazer nenhum ruido, para ver se conseguíamos avistar o tâo desejado macho de sitatunga. Era a nossa rutina: pela manhã caçávamos procurando elefantes e pelas tardes sentávamo-nos naquelas pedras a ver se saia o animal.
Andar no meio das florestas, fechadas caminhando e buscando pegadas de elefantes, era frustrante, pois muitas vezes não se encontrava nada e aí o jeep somente servia para deslocar-nos nas picadas e o resto "era à pata" "cuenda na muendo" como diriam em Moçambique. Então o meu pisteiro John que tinha nascido no Zaire ainda que vivesse no Sudão, disse-me que o melhor era ele ir falar com uns familiares e que eles procurassem os elefantes para nós, e que cada dia à noite nos mandassem recado a ver se tinham encontrado ou não os elefantes, que na floresta densa, não caminhavam tanto como os das savanas que se têm que refugiar longe donde bebem, e assim seria mais fácil alcança-los.
Esta "estratégia" dava-nos mais tempo para estar a procurar a nossa Sitatunga".
Um dia pela manhã muito cedo, pois aquela hora ainda não se via quase nada, tendo nós que usar uma pequena lanterna para ver onde pisávamos, íamos ver umas pegádas de elefante que nos tinham dito que existiam uns habitantes do lugar, quando nos começou a cair em cima uma chuva torrencial. Sacamos as nossas capas impermeáveis, tapando bem as armas, e aguentámos debaixo de umas grandes árvores da floresta fechada. Estivemos aí até que passou a chuva, mas com tanta chuva elefantes, nada. Iríamos ao acampamento, e depois de comer, sairíamos ver o lugar onde esperávamos a sitatunga.
Pitt estava com frio porque a chuva nos tinha calado até aos ossos ainda qe tivéssemos as capas, e ele levasse um casaco bastante quente.
Íamos na direcção ao jeep, quando John se baixou e apontou para uma animal que se movia à borda da floresta. Era um dos animais mais difíceis de conseguir, porque somente o podes caçar se o encontras assim como nós. Era um YELLOW BACKED DUIKER, o maior duiker de África e bastante raro. Há poucos caçadores que o tenham no seu haver.

Pitt ajoelhou-se, apontou bem e Buuuuuuuummm. Animal ao chão como ele quase sempre fazia.
Tínhamos conseguido, sem procurá-lo, um dos animais mais raros da floresta equatorial e de África.
A chuva que tanto nos tinha aborrecido, tinha sido uma bênção, porque eu aprendi que estes animaizinhos quando chove, vêm às bordas das floresta para aquecer-se e comer a erva fresca das pequenas clareiras.
Tinha sido um bom dia e produtivo para o nosso safari.
Victor "Hunter"

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