Ao chegar ao Sul do Sudão, onde se iriam realizar os nossos safaris, encontrámo-nos com vários problemas. Melhor, eu como andava na angariaçâo de safaris por "todo o mundo", mandei adiante a António Guerreiro,(angolano) ao Luís Lopes da Silva (moçambicano) ao Carlos Fortunato (angolano) ao António Monteiro (Kubitcheck), e ao nosso mecânico Matias, que trabalhou muitos anos em Vila Pery.
Tiveram que instalar-se numa casa que alugaram, que mais tarde nós compraríamos para servir de Lodge, nâo só para nós como para os clientes que chegavam de todos os lados e tinham que passar alguma noite em Juba. Em Juba havia somente um hotel chamado Hotel Juba, que era do governo, e que aparte de ser caríssimo, era uma casa de madeira e zinco, cheia de baratas e a comida nâo era de todo muito higiénica. (Nas minhas memórias, conto todas as peripécias de instalação e verificação das áreas, etc.).
Começámos os safaris no dia 5 de Janeiro de 1976, 5 meses exactos, depois da minha "fuga de Angola" com todo o equipamento. Jeeps, Unimogs(2), tendas de campanha, geleiras, congeladores, roupas de cama e de banho, geradores de electricidade e sobretudo os jeeps que vinham carregados com caixas de comida e lataria que tínhamos comprado em Walvis Bay (Namibia), antes de embarcá-los para Mombassa, porque no Sudâo, em Juba, eu sempre dizia que dava 100 dolares a quem pudesse comprar 5 latas de sardinhas ou de salsichas. Nunca ninguém os ganhou.
E a gasolina? Tanto para os jeeps, também o diesel, e a gasolina para o aviâo?
Tínhamos que comprar por camiões e, tinham que vir de Nairobi, através dum país governado pelo louco do Idi Amim, que era o Uganda. Imaginem somente um pouco as dificuldades que tínhamos: até os ovos para os matabichos, os voávamos de Nairobi, assim como as verduras em sacos de 25 kilos desidratadas.
Mas tudo conseguimos superar, com um pouco de organização e muita força de vontade.
Um dos safaris que fiz, e que vou contar, para que tenha continuidade, foi com aquele senhor que também cacei em Angola, que já conhecemos de nome. Pitt Sanders.
Pois bem o Pitt queria os antílopes raros que lhe faltavam:
Um Bongo, que era o troféu principal, já tinha varios elefantes, e necessitava umas pontas compridas porque queria mandar fazer uma cama com as pontas como cabeçeira, como ele me mostrou o desenho que trazia em um caderno.
Como em Angola tínhamos "falhado" a sitatunga, queria ver se era possível matar uma no Sudão. Tambem queria um Mrs. Grey's Lechwee, ou Lechwee do Nilo, e o que fora saindo como dizia ele.
Ao chegar a Juba, encontrámo-nos que as caixas das armas de Pitt se tinham "desviado" em Londres e chegou sem armas. Não havia problema, eu tinha a minha velha 375 Brownning para emprestar-lhe e uma 270 para o que fosse, e para os elefantes podia emprestar-lhe uma 458 que sempre trazia no meu "jogo" de armas. Assunto arrumado. As armas chegariam mais tarde, uma semana depois. Fomos no nosso avião até Yambio, onde o meu chauffer já me estava esperando com o jeep e seguimos imediatamente para o nosso acampamento de James Diko, que ficava a uma hora de Yambio.
Pitt perguntou-me que tal me tinha ido de bongos esse ano, eu somente lhe respondi que tínhamos feito 100% de bons resultados. Aprendemos rápido com a ajuda dos meus pisteiros AZANDES, John e Hassan. John era meio pigmeu e Hassan era Azande que tinha adoptado um nome muçulmano, durante a guerra do Sul, para que não o matassem, porque isso sim, era "borracho como o vinho", e os verdadeiros maometanos não bebem álcool.
No primeiro dia levantámo-nos perto das 4 da manha para matabichar bem; metemo-nos no Toyota e fomos até a um lugar que era meu costume visitar, onde havia uma grande "salina" onde os animais vinham comer aqule pasta esbranquiçada, que estava cheia de minerais. Igual que os elefantes, por isso tinham aquelas pontas tâo compridas e perfeitas quase sempre. Caminhávamos em silêncio, eu ia à frente por um carreiro, que já tínhamos feito previamente e quase ao sair da floresta que atravessávamos, vi um bonito BONGO, a comer numa clareira. Ele nâo nos pressentiu e naquele momento encobriu-se por uma morro de termites ou formigas, o que aproveitámos, Pitt e eu para poder chegar-lhe sem que nos vira. Pitt levantou a 375, apontou, disparou e
(note-se as sombras, era quase ao nascer do sol)
BINGOOO- Bongo no chão.
Era uma beleza de troféu. 29" polegadas, entrava no livro de Records da Rolland & Ward.
O animal mais difícil em África de caçar, somente em duas horas depois de sair do acampamento e no primeiro dia de caça. Há gente que tem sorte.
O Pitt nâo cabia em si de contente. E eu por mim sabia que era o trofeu que mais lhe interessava, esse safaris ia ser tranquilo e sem pressões.
E o safari continuou divertido e com a companhia do meu bom amigo Pitt Sanders.
Victor "Hunter"
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