sábado, outubro 01, 2005

DEDICADA ÀS PESSOAS DE ANGOLA - 5

DEDICADA ÀS PESSOAS DE ANGOLAE AOS QUE GOSTAM DE ÁFRICA
(Carta No. 5)

Eram as 5 da manhã, lá ao fundo, para o lado do Rio Curoca, olhando para a picada que nos leva ao Parque do Iona, uma ténue claridade começava a despontar sobre a serra, desenhando uma linha dourada sobre o agreste pico. Somente se podia ver o contorno das montanhas de pedra que constituíam uma barreira natural para o parque.

Com as viaturas carregadas e prontas para iniciar esta nova etapa da viagem, pusemo-nos a caminho.

Em menos de 15 minutos estávamos a atravessar o Rio Curoca, que é um dos limites que demarcam o Parque Nacional do Iona.

Oh, quantas recordações dos dias em que conduzíamos safaris por esses lugares. Quase sempre começávamos as nossas caçadas perto desse lugar. Alguns dos nossos clientes e amigos, já não estão nesta terra, mas ao passar por aí, não pude deixar de me lembrar deles.

Que dias aqueles! Éramos jovens, tínhamos o espírito da aventura, tão dentro do nosso ser, que pensávamos que éramos os reis do mundo. Não havia dificuldades para nós, somente uma vontade férrea de ter, de ver, de fazer, de sentir. Queríamos “comer” o mundo, e para isso não nos importava fazer o que fosse para consegui-lo. Quantas ilusões, que deixámos atrás através dos tempos que foram passando. Hoje recordamos, e vemos passar diante de nós todas essas vivências, como espectadores de um velho filme, e sorrirmos, como que um pouco envergonhados das loucuras que fazíamos.

Mas sabem quê? Se voltássemos a viver nesse tempo, estou certo que faríamos exactamente as mesmas coisas.

Há muitos anos podiam-se ver centenas de Orixes, de zebras e milhares de springbucks nesse lugar. Durante a guerra civil, muita gente se aproveitou para dizimar uma grande parte desses animais. O refúgio deles nas dunas e em lugares pouco acessíveis, conseguiu salvar alguns, da extinção total. Talvez, se alguém no governo de Angola veja e compreenda que se há animais, haverá turismo e o turismo por sua vez trará benefícios económicos a este abandonado lugar, então poderemos ver em pouco tempo a regeneração deste parque.

O sol estava a levantar-se atrás das montanhas e já se podia distinguir claramente alguns animais pequenos que deambulavam entre as pequenas e raras espinheiras que havia no lugar. Os Irax, que são uns roedores pequenos e da família dos elefantes, começavam o dia entre os altos penhascos, que é o seu habitat, de um lado para o outro procurando comida, e cuidando-se do seus inimigos: as águias, e muito especialmente os leopardos, que abundam naquelas montanhas, que para eles, constituem o refúgio ideal. Têm comida, água em muitas grutas entre as pedras e um lugar para esconder-se e livrar-se do calor atormentante que faz nesses lugares.

Durante meia hora dirigimo-nos na direcção do velho acampamento do parque. Pensávamos que podíamos encontrar alguém neste lugar, para que nos dera alguma indicação sobre o estado em que se encontrava esse lugar.

De repente ao longe sobre uma pequena elevação vimos alguns Orixes, e o nosso coração bateu de emoção porque vimos que nem tudo estava perdido. Os “reis do deserto”, os Orixes ou Gemsbucks estavam a regressar ao lugar, donde nunca deviam de ter sido espantados. Eram apenas dois desses antílopes, mas essa imagem, deu-nos a esperança e a convicção que nem tudo está perdido na África que adoramos. Pode-se fazer ainda muita coisa para salvá-la da destruição, se houver boa vontade. A Natureza é sábia e se lhe damos uma oportunidade, ela saberá regenerar-se. Por isso cuidemo-la.

Rapidamente, elevei uma prece a Deus em agradecimento ao começo da regeneração deste lugar.

Depois de tirar várias fotos, continuámos a nossa viagem. O acampamento dos guardas do Iona, já não existia, tudo estava destruído, podiam-se ver ainda algumas carcaças de carros que foram abandonados, durante o êxodo de muitas famílias portuguesas, com o afaz de escapar da guerra civil de Angola.

Eu também tinha passado por aí, havia 30 anos, com o equipamento dos safaris, para me internar no que hoje é a Namíbia.

Deu-nos graça, um anuncio de não passar que estava já muito ferrugento no meio do “nada” e sustentado por umas pedras, para que não caísse com o vento.

Isso era o que tinha ficado da sinalização eficiente que antigamente existia nesse parque. Dirigimo-nos para o Sul, pois queríamos chegar à foz do Rio Cunene, antes de anoitecer, para poder instalar-nos para passar a noite, já que sabíamos que íamos a encontrar num lugar deserto, o que antes era um lugar com bastante gente.

Os Toyotas portavam-se bem, sem qualquer problema, confirmando uma vez mais que eram os carros e camionetas ideais para a África que estávamos atravessando.


Já tínhamos provado estes 4x4 em Moçambique, na África do Sul, na Botswana, em todo o Sul de Angola, no Sudâo e vários países mais e sempre foram uns carros para confiar, e que nunca nos deixaram mal durante tantos anos que os usamos, nas mais duras provas que se pode fazer a um carro.

Antes de internar-nos mais profundamente no Parque do Iona, não quisemos passar a oportunidade de fotografar uma das plantas mais raras do mundo, que existe somente aqui neste lugar e algumas, muito poucas, na Namibia: a Velvichia Mirabalis. Parece uma planta pré-histórica. Está protegida, ainda que muitas foram destruídas somente pelo prazer de destruir, pois não se conhece, nenhuma propriedade medicinal desta planta, o que sirva para alguma coisa. Somente estão aí, fazendo parte de um grupo de seres vivos, que fazem parte deste conjunto ecológico do deserto.

Descansamos um pouco para poder comer alguma coisa e continuámos com rumo à Foz do Cunene.

O Cunene, depois de serpentear entre montanhas, formando às vezes profundos vales entre montanhas de rochas, tem rápidos formidáveis em vários lugares do curso que toma em direcção ao Oceano Atlântico. Os portugueses em conjunto com os sul-africanos construíram a presa conhecida por Ruacaná para abastecer de electricidade ao Sul de Angola e Norte da Namíbia.

Depois dessa presa, o Rio continua o seu curso formando rápidos até chegar as Quedas da Mpupa. Umas cataratas no meio de uma garganta profunda cavadas nas rochas. Depois dessa queda, o rio toma uma velocidade incrível, durante o tempo de chuvas, para baixar a sua velocidade em tempo de secas, não obstante continuar com uma corrente de muita velocidade. Que faz deste lugar um sítio ideal para fazer “raftting” com canoas.

Uma organização turística do Windoeck, na Namibia, está aproveitando esses rápidos para trazer turistas ao lugar, aproveitando fazer visitas a povoações de gente da etnologia Himba, que são primos dos Mucubais de Angola, pois têm os mesmos costumes e são pastores nómadas em ambos casos. Vivem numa espécie de matriarcado, em que as mulheres têm a “voz cantante”, na sociedade desta tribo. Elas ordenham, preparam e vendem o que lhes sobra das suas manadas. São uma tribo interessantíssima sobre o ponto de vista etnológico e antropológico. (Continua Na carta 6)

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