domingo, março 26, 2006

Viagem de Saudade, ao Mato de Moçambique

Uma madrugada de Agosto,
A um jeep eu me subi,
A névoa estava densa,
Bastante frio senti.
Sâo os meses frios do Sul,
Mas eu ia preparado,
Levava uma boa samarra
Nào queria estar constipado.

Ia feliz e animado,Porque
nâo há ninguem que nâo fique,
Deslumbrado e extasiado
Nas terras de Moçambique.

Sai pela estrada da Manga
Em direcçâo ao Dondo
Levava de ajudante
O cozinheiro Matondo.

Íamos os dois visitar
Terras que antes caçei
Agora nada de armas
Só fotos, eu tirarei.

Já matei muitas espécies,
Há trinta anos passados,
Agora nada de tiros,
Os animais já sâo raros.

Passámos pelo Dondo,
P’ra a estrada de Inhaminga,
Tínhamos que ter cuidado,
Porque havia muita “minga”.

No desvio da Muanza,
Para a esquerda torçemos,
Direitos para Mazamba,
Lugar onde antes vivemos.

Pareceu-me ver um leopardo,
Que ia lá baixo a correr,
É o primeiro animal,
Que ancançei eu a ver.

Segui baixando p’ro vale,
Ao longe via a famosa,
Destacando no horizonte,
A Serra da Gorongosa.

Que lindo vale era aquele
Que saudades, que beleza
Os tandos estavam belos
Assim era a natureza.

Parámos perto de um rio
E vi que “banja” havia,
Era o chefe Mazamba
Que a sua gente reunia.

Veio-me o chefe saudar
Tinha os olhos cansados
Perguntou quem era eu
Que fazia p’ra aqueles lados.

Vivi aqui muitos anos,
Num acampamento que tive
Um pouco acima do rio
Queria saber quem lá vive?

O homem olhou p’ra mim
Admirado e sorrindo
Com os braços abertos
Victor Cabral sê benvindo

Estava feliz o chefe,
Porque me reconheceu,
Chegaram-me as lágrimas aos olhos,
Oh! Que saudades Deus meu.

Aqui podes acampar,
Disse-me o chefe contente,
Vais a ver que ainda hoje
Vai vir alguem da tua gente.

Chefe Mazamba obrigado
Pela tua hospitalidade
Vou estar aqui alguns dias
Para matar a saudade.

Fizemos um acampamento
Numa linda clareira
O chefe mandou por lenha
Para fazer a fogueira.

Olhava p’ras labaredas
Que saiam nâo sei donde
Pensei no velho pisteiro
O meu “baba”, que foi Fombe.

Estou certo que o seu espirito,
Andava por aí a rondar,
Contente que eu tinha vindo
Novamente ao seu lugar.

Elevei uma oraçâo
Numa respeitosa preçe
Quero que me guies bem,
Manguana machibésse.

Quero ir ver os búfalos
Se nâo é grande chatisse
Eu lembro-me que lhes gostava
Andar perto ao Inhanfisse.

Nhati – assim os chamam
E que fortes animais sâo
Quero ir ao Inhangdué,
P’ra ver algum leâo.

Aí eram terras do velho,
Araujo se chamava,
Diz que tinha sangue azul
É o que a gente murmurava.

Dormi tâo bem essa noite,
Um espirito me embalava,
Com o som dos batuqes,
Parecia que flutuava.

O cozinheiro Matondo,
Trouxe-me à cama um café,
Continuava aquel hábito,
Antes de por-me de pé.

Um matabicho bem bom,
Ao jeep entâo nos subimos,
Fomos direitinho ao tando,
E alguns animais vimos.

Eram as zebras vistosas,
Sengos, javalis corriam,
Ao longe vi umas tucas,
Bois-cavalos que fugiam.

Que linda que é a minha África,
Com engraçados esquilos,
Com aves e plantas raras,
E tambem com crocodilos.

Ouvi cantar as “kués”,
Os patos “surires” silvavam,
Os trinidos das goembas,
Eram sons que me gostavam.

Vi um elefante comer,
Numa árvore de mafura,
Tambem comi daquele fruto,
Um gosto, que ainda dura.

Alguem disse alguma vez,
Que quem ao mato vier,
De certeza voltará,
Como ao amor de uma mulher.

Continuámos p’ra frente,
Vimos gazelas e impalas,
Cabritos, e inhacosos,
E tambem vi pala-palas.

Que bom ver que ainda existem,
Especies de animais,
Para poder procrear,
E que nasçam muitos mais.

Numa lagôa bonita,
A que os locais chamam Lunga,
Parei para descansar,
Estava a água profunda.

Tantas vezes que aqui vim,
Quando safaris guiava,
Aproveitava p’ra comer,
Com turistas que levava.

Estava cheia de nenúfares,
Uma tâo delicada flor,
De cores brancas e azuis,
Brilhantes de explendor.

Ouvi “cantar” um hipopotamo,
Um pouco mais adeante,
Vi mesopos e tilápias,
E tambem um elefante.

Mais adeante vi,
Deu-me um salto o coraçâo,
Com uma juba negra ao vento,
Um imponente leâo.

Continuei o caminho,
Ao Kanga Nthole fui dar,
Estava abandonado,
Quase me pus a chorar.

Naquele lugar tâo bonito,
Em que o tempo parou,
Amores um dia lá tive,
Que a memoria nâo apagou.

Se algum dias lês os versos,
Desta pequena história,
Tu casas-te, eu tambem,
Mas nâo me sais da memória.

Nâo te preocupes senhora,
Estarei sempre aos teus pés,
Preferiria morrer agora,
Do que revelar quem tu és.

Se escrevi isto aqui,
Nâo foi por presunçâo,
Foi para que tu soubesses:
Te tenho no coraçâo.

Regressei já pela tarde,
Ao lugar onde acampei,
Ia ter uma surpresa,
À noite, quando cheguei.

Estava um velho andrajoso,
Perto do fogo sentado,
Levantou-se e dirigiu-se,
Devar para meu lado.

“Patrâo já nâo me conheçe?
Sou Joâo o seu guia,
Que o levava ao Endone
A qualquer hora do dia.”

Nâo podia acreditar,
Que aquele homem tâo débil,
Fosse o rapaz que noutro tempo,
Forte, sagaz e ágil.

Fomos juntos à Macossa,
Ao Catulene e Zambeze,
Chegamos à Mutarara,
À Zambézia e, até a Tete.

O meu Deus, muito obrigado,
Por dares-me esta oportunidade,
De ver alguem que outrora,
Foi amigo de verdade.

Matondo óh cozinheiro,
Dá comida ao meu amigo,
Da-lhe parte da minha roupa,
E da-lhe também um abrigo.

Joâo quero que tu fiques,
Enquanto aqui estiver eu,
Vamos fazer uma viagem,
Aos tandos de Marromeu.

Foi assim que vi o mato,
Do Moçambique, e meus amores.
Foi sonho realizado,
Até logo meus senhores.

Victor Cabral “Hunter”
Ano 2006

Menina negra

Clicar na imagem para aumentar