domingo, outubro 26, 2008

FANTASMAS DO PASSADO


Por: Victor “Hunter”

Um dia na minha Beira
Fui para a cama bem cedo
Durante a noite acordei
Com uma sensaçâo de medo.

Nâo era de arrepiar,
Era somente a impressâo,
Que alguem me acompanhava,
Apressou-me o coraçâo.

Vi deslisar umas sombras,
Abri os olhos em par,
Era como umas imagens,
Que me vinham visitar.

Fantasmas...logo pensei,
Aqui é tudo possível,
Vi caras que conheci antes,
Isto sim que era incrível.

Olha o velho Araujo,
Daquele jeep a baixar,
Parecia-me bem disposto
Pela praça a passear.

Levava posto um blazer
No pescoço um cachné,
Falava com o Ramchand
Um importante monhé.

Depois vi um homem passar
Deu-me um salto o coraçâo
Parecia-me conhecido,
Era o Saul Brandâo.

Lembram-se dele certamente
Muito conhecido o senhor,
Era homem de negocios
E dono do Embaixador.

Quem vem lá baixo apressado?
O Salzone, o caçador,
Vai correndo antes que feche
O Pinto & Sotto Mayor.

Naquele Mercedes lá vai,
Levantou a mâo pra mim,
Pude vê-lo muito bem,
Era o Engenheiro Jardim.

Deve ter vindo do Dondo,
Acompanhava-o a esposa,
Vi que o carro seguia,
P’ros lados do Pendray Sousa.

Ele fui o presidente,
Por isso o conhecia
Do nosso aero club,
Onde eu muitas vezes ia.

Foi um grade aventureiro,
E foi homem da elite,
Piloto aviador
Director da Lusalite.

Quando estava bem atento,
Vi um Fiat azul passar,
Era o meu tio Acácio,
Que vinha de trabalhar.

Ao Bar Rex se dirigiu,
E foi lá estacionar,
Porque pelas tardes ia,
Com os amigos jogar.

Continuava admirado
Com todos os que passavam,
Porque eu sabia que eles,
Todos mortos se encontravam.

Mas aqui nâo acabava
Era como se estisse à janela,
Passou o Magalhâes Costa
O dono da Caravela,

Isto só acontece aqui,
Nesta cidade da Beira,
Olha o meu amigo Sthamer,
Do Pertersen & Nogueira

Ia no seu Volkswagen
Por isso eu bem o vi,
Tinha a sua companhia,
Por cima do Café Capri.

Passar em frente aos correios
Vi o Virgilio Garcia,
Indo direito à Safrique,
Deles era caçador-guia.

Lembram-se dos Serras Pires?
Lhes juro que eu nâo minto,
Vi passar p’ro 100 à Hora,
O meu amigo Jacinto.

Que andará fazendo?
Com cuidado o segui,
Vi que andava organizando,
À Gorongosa um Rally.

Rallys, carros e velocidade,
Desfilando pela Beira,
Representando o Entreposto,
O José Manuel Mendes Pereira.

Vi passar um grande carro
Atrás dele uma camionete
Saiu de lá o dentista
E a sua mulher, a Gillette.

Continuava a passar,
A gente que eu conheci,
O dono do Simôes Safaris
Naquele momento eu vi.

Olha o Zé que bem o vejo,
Acenando-me com a mâo,
Vi tambem o velho Coimbra
E o Henrique Leitâo.

Olá amigo, me disseram,
Aqui te viemos a ver,
Fomos todos muito amigos
Muito antes de morrer.

Depois vi o Carlos Cruz,
Que tambem foi caçador,
Ele casou-se com a viuva
Que se chama Leonor.

Sabem quem vi eu passar
Pessoa que me deu pena?
Vi que ia muito contente,
O amigo Luis Mena.

A morte tinha-o levado,
Rápido e numa carreira,
Agora encontrava-se bem,
A passear pela Beira.

Mais tarde vi outra pessoa,
Na mâo levava um cajú,
Era o Armindo Vieira
O famoso Marabú.

Foi caçador professional,
Durante muitos anos,
Nese momento passava
Mesmo em frente à Spanos.

Atrás da Manica Trading
Vi o Arquitecto Ivo,
Caminhava devagar
Parecia que estava vivo.

Com ele e acompanhando-o
Em conversa muito amena,
Ia bastante animado,
Creio que se chamava Sena.

Que estariam planeando?
Alguma coisa digo eu,
Será que querem modificar
A entrada para o Céu?

Com calma mas com firmeza
Pelas avenidas da Beira,
Ia p’ro Aero Club,
O grande Chico Moiteira.

Sempre com um grande sorriso,
Que nele era habitual,
Acompanhava-o o Tony Ladley,
Nâo vi que estivesse mal.

Num Citroen tubarâo
Ia o Roger Sauvage,
Tambem o acompanhava,
A que foi minha manacage.

Ao olhar p’ro Pic-Nic,
Estava o amigo Teixeira,
Aterafado preparando,
Uns ovos com uma alheira.

Estava a ver muita gente
Durante essa semana,
Vi aquele que foi piloto,
Amigo Lomba Viana.

E por falar de pilotos,
Que viviam nesta terra,
Ia para o aeroporto,
O aviador Jorge Guerra.

Dizem que a Senhora Morte,
O tinha contratado,
Para levar as pessoas,
Da vida, pró outro lado.

Tambem vi outra pessoa,
E quase solto um grito,
Era um bom hoteleiro,
Do Estoril, era o Brito.

Na entrada do cinema
Que se chama Nacional,
Encontrei um velho amigo
Era o Luis Portugal.

Oh Luis meu bom amigo
Onde é que tua mâe anda?
Está na agencia agora,
E ainda se chama “Armanda”.

Que coisas que estava a ver,
Isto sim era demais,
Pois no Lar Modeno vi
O Silva e o Sr. Morais.

O Torcato pobrezinho
Quando chegou aquele dia
Quiz vender ao Sào Pedro,
Bilhetes de Lotaria.

Despois vi uma pessoa
Que reconheci Deus meu,
Era o Coen das madeiras,
Que era um grande judeu.

Mesmo em frente ao Chiveve,
Preparando o camarào,
O grego do Johny’s Place,
Açenou-me com a mâo.

Que boa que era a comida,
Naquele famoso lugar,
Agora eram os fantasmas,
Que a estavam a gozar.

Segui para a Ponta Gea
Alguem me estava a chamar
Na Padaria Esperança,
Vi o Carvalho trabalhar.

O que mais me impressionou,
Que quase me dá um chelique,
Ver a Gugas, minha mulher,
Em terras de Moçambique.

Em frente ao campo de golf,
Naquele grande casarâo,
Vi o homem importante
O bispo Dom Sebastiâo.

Primeiro Bispo da Beira,
Nos livros assim se aprende,
A lápide que está no châo diz:
D. Sebastiâo Soares Resende.

Vi uma pessoa importante,
Que num grande carro vinha,
Era um bom advogado
E chamava-se Palhinha.

Gostava muito de caçar,
Ia muitas vezes p’ros tandos,
Para poder distrair-se,
De assuntos e de “milandos”.

Por fim vi um grande homem
Que saiu nâo sei bem donde,
O que foi o meu pisteiro,
Um grande amigo , o FOMBE.

Para mim se dirigiu,
E disse-me num tom lento,
Aqui estou oh meu muana,
Te espero até ao fim do tempo.

Ao ver aquele ser querido,
Nem podia respirar,
Desde que era um menino,
Ele me ensinou a caçar.

Ao ver que ele estava bem,
Que felicidade, que alegria,
Sabia que ele me esperava,
Quando chegasse o meu dia.

Depois de ver tudo isto,
Cheguei à conclusào,
Que os beirenses ao morrer
Para o Paraiso vâo.

E ao perguntar-lhe directo,
Ao Dr. Dias Ferreira,
Victor, ainda nâo notas-te,
Que o Paraiso é a BEIRA?

Quando eu morra um dia,
Lá nos vamos encontrar,
Mandem-me limpar a casa,
Onde eu costumava morar.

Agora sei para onde vou,
Agora estou descansado,
À Beira eu vou parar,
Ainda que morra noutro lado.

Por isso amigos nâo temam,
Quando a Morte os venha buscar,
Já sabem que de certeza,
À Beira vamos parar.

quinta-feira, abril 03, 2008

UMAS QUADRAS SOBRE A FAMOSA GILLETTE DA BEIRA

RELEMBRANDO A GILLETTE O GIL E O CÃO
(Personagens das "Minhas quadras")

Quando eu era ainda um jovem,
Muitos personagens conhecia,
Eu tinha uns vinte anos,
Quando na Beira vivia.

Havia uma especialmente,
Pela sua forma “coquette,”
Que atraía a atenção,
Era a famosa Gillette.

Nunca se soube a sua idade,
Nunca a soube ninguém,
Mas isso sim se notava,
Era como Matusalém.

Pintava-se com maquilhagem,
Com batons e com rubores,
Parecia muitas vezes,
A paleta dos pintores.

Não tinha sentido do ridículo,
Por isso a admirava,
Ia sempre com o marido,
O Gil, que a acompanhava.

Às noites iam ao cinema,
Ela vestia-se vaporosa,
Com vestidos de menina,
Porque se sentia formosa.

O pobre Gil aguentava,
Levar-lhe a echarpe e a carteira,
Porque diziam que ela,
Era a rica verdadeira..

Dizia a gente da Beira,
Que antes estava casada,
Com um dentista francês,
Mas ele já não a aguentava.

Que então pediu ao Gil,
Pois era seu assistente,
Que a levasse de França
Para bem longe, para sempre.

Dizem que houve dinheiro,
Nessa rara transacção,
Instalaram-se na Beira,
Com dinheiro a montão

Tinham um Oldsmobile
Duas cores tinha a carro
Traziam-no primoroso
Enfeitado como um jarro.

Cha cha chas, tangos e mambos,
Com ela também dancei,
Na “boite” do Grande Hotel,
Onde muito a aturei.

O marido muito contente,
Porque assim ele descansava,
Quando eu ia ao consultório,
Uns bons descontos me dava.

A Gillete pelas tardes
Ia muito às matinés,
Como o Gil trabalhava,
Acompanhava-a o José.

José era o “pequenino”,
Que com eles trabalhava,
Dava banho ao cãozinho,
E à Madame acompanhava.

Levava a carteira à senhora,
Ia sempre ao seu lado,
Pela trela o cãozinho,
Um salsicha acastanhado.

Vivia a amiga Gillette
Se não me recordo mal
No edifício em frente
Da Câmara Municipal.

Eu aí sim nunca fui,
Porque a casa em que vivia,
Diziam os do Lar Moderno,
A um “bouduoir” se parecia.

Quem estivesse na Praça,
Sentado na explanada,
Via passar a senhora,
Sempre muito perfumada.

Francesa até ao fim,
Escrevo aqui neste papel,
De Paris mandava vir
O seu perfume, o Channel.

Fizemos greve aos cinemas,
E a “Gillette” a apoiar,
Ao aumentarem os preços,
Dos bilhetes para entrar.

Morreu lá em Moçambique
Já muito velha a Gillette
Encontrou-se com São Pedro
Mas isso sim, bem “coquette”.

Victor “Hunter”
Mexico 2006