quinta-feira, abril 03, 2008

UMAS QUADRAS SOBRE A FAMOSA GILLETTE DA BEIRA

RELEMBRANDO A GILLETTE O GIL E O CÃO
(Personagens das "Minhas quadras")

Quando eu era ainda um jovem,
Muitos personagens conhecia,
Eu tinha uns vinte anos,
Quando na Beira vivia.

Havia uma especialmente,
Pela sua forma “coquette,”
Que atraía a atenção,
Era a famosa Gillette.

Nunca se soube a sua idade,
Nunca a soube ninguém,
Mas isso sim se notava,
Era como Matusalém.

Pintava-se com maquilhagem,
Com batons e com rubores,
Parecia muitas vezes,
A paleta dos pintores.

Não tinha sentido do ridículo,
Por isso a admirava,
Ia sempre com o marido,
O Gil, que a acompanhava.

Às noites iam ao cinema,
Ela vestia-se vaporosa,
Com vestidos de menina,
Porque se sentia formosa.

O pobre Gil aguentava,
Levar-lhe a echarpe e a carteira,
Porque diziam que ela,
Era a rica verdadeira..

Dizia a gente da Beira,
Que antes estava casada,
Com um dentista francês,
Mas ele já não a aguentava.

Que então pediu ao Gil,
Pois era seu assistente,
Que a levasse de França
Para bem longe, para sempre.

Dizem que houve dinheiro,
Nessa rara transacção,
Instalaram-se na Beira,
Com dinheiro a montão

Tinham um Oldsmobile
Duas cores tinha a carro
Traziam-no primoroso
Enfeitado como um jarro.

Cha cha chas, tangos e mambos,
Com ela também dancei,
Na “boite” do Grande Hotel,
Onde muito a aturei.

O marido muito contente,
Porque assim ele descansava,
Quando eu ia ao consultório,
Uns bons descontos me dava.

A Gillete pelas tardes
Ia muito às matinés,
Como o Gil trabalhava,
Acompanhava-a o José.

José era o “pequenino”,
Que com eles trabalhava,
Dava banho ao cãozinho,
E à Madame acompanhava.

Levava a carteira à senhora,
Ia sempre ao seu lado,
Pela trela o cãozinho,
Um salsicha acastanhado.

Vivia a amiga Gillette
Se não me recordo mal
No edifício em frente
Da Câmara Municipal.

Eu aí sim nunca fui,
Porque a casa em que vivia,
Diziam os do Lar Moderno,
A um “bouduoir” se parecia.

Quem estivesse na Praça,
Sentado na explanada,
Via passar a senhora,
Sempre muito perfumada.

Francesa até ao fim,
Escrevo aqui neste papel,
De Paris mandava vir
O seu perfume, o Channel.

Fizemos greve aos cinemas,
E a “Gillette” a apoiar,
Ao aumentarem os preços,
Dos bilhetes para entrar.

Morreu lá em Moçambique
Já muito velha a Gillette
Encontrou-se com São Pedro
Mas isso sim, bem “coquette”.

Victor “Hunter”
Mexico 2006